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Digimon World: Next Order: Vale a pena?

por Renan Klopper
Digimon World: Next Order: Vale a pena?

Falta a Digimon a grandeza de seu maior concorrente e quem sabe sua grande inspiração. Ainda assim, a franquia que traz carismáticos bichinhos virtuais ainda tem seus fãs espalhados por todo mundo. Muito destes aguardaram ansiosamente a chegada de Digimon World: Next Order. O game já havia sido lançado em março de 2016 para o PS Vita, e agora chega ao PlayStation 4 no ocidente.

1O formato é ao estilo Tamagochi, onde os jogadores precisam cuidar de seus amigos virtuais, dar comida, levar ao banheiro e botar pra dormir, ao mesmo tempo em que os treinam e batalham para os tornarem mais fortes e enfrentarem novos desafios. Mas essa proposta esbarra em um jogo pobre no quesito jogabilidade, level design e curva de aprendizado, e dá algumas derrapadas em aspectos técnicos, tentando compensar na diversão.

Leia abaixo a nossa opinião acerca de Digimon World: Next Order, e entenda porque é melhor esperar por uma promoção.

Um enredo daqueles…

… Daqueles dignos de desenhos animados que passam na parte da manhã em um grande canal de televisão.

Mas calma. A intenção não é denegrir ou generalizar tais premissas, visto que estas muitas das vezes cumprem o seu papel de atrair e instigar seu público-alvo.

E Digimon World: Next Order é um jogo para todos. Ou ao menos tenta. Mas seu enredo um tanto quanto infantil pode não fisgar uma grande parte do público que possa se interessar pelo jogo.

Já característico da franquia Digimon, o jogo se inicia com o personagem principal (menino ou menina, a critério do jogador) simplesmente usando seu Digivice, que parece ser um brinquedo comum no mundo normal, e mergulhando repentinamente no mundo digital.

Isso sempre aconteceu em qualquer temporada da série animada. No jogo, o motivo pelo qual o protagonista entra no digimundo é justificado. A questão é que essa justificativa é bem rasa e pouco plausível. Mesmo que essa seja a intenção do jogo.

O papel do jogador é juntar pistas para ir atrás de um Digimon maléfico e descobrir o que fez com que este ficasse livre para atacar as aldeias do mundo digital. Ao mesmo tempo em que precisa coletar informações sobre como foi parar ali e maneiras de voltar ao seu mundo.

Um enredo básico. Um enredo Digimon. E isso não é desculpa.

Na própria série animada existem premissas muito mais “fundamentadas”. Por isso, o argumento de que “isto é Digimon e é assim mesmo” não cabe para justificar o roteiro pobre do título.

Digibabás

Digimon World: Next Order vem com a proposta já clássica de cuidar dos bichinhos virtuais. É necessário dar comida, colocar para dormir e até leva-los ao banheiro. Tudo isso para criar uma boa relação com os Digimons e para que, em contrapartida, eles se afeiçoem a seu parceiro e contribuam nas batalhas.

A morte dos Digimons, assim como qualquer morte, aliás, é algo inevitável. Ela vai chegar uma hora ou outra. Assim que isso ocorre, um novo ovo para chocar aparecer e um novo Digimon “reencarnado” que contará com status melhores poderá ser ganho. Isso possibilita evoluí-lo para outros mais poderosos.

Embora a ideia de cuidar do pequeno animal seja interessante, somente a convivência em si é boa e divertida. Pode não parecer, mas essa etapa é prazerosa e, talvez, uma das partes mais divertidas de todo o jogo.

Nascendo, crescendo e evoluindo

Mas, então, existe a tal curva de aprendizado. Existem desafios para enfrentar, o que implica que os Digimons devem ser fortes.

Existem duas formas de treinar seu Digimon: usando uma sala de treinamento, ou lutando pelo mundo. Caso opte apenas por treinar, a vida do companheiro animal será mais difícil, ele ficará mais fadigado com frequência o que o levará a falecer mais cedo caso não tenha cuidado.

O efeito ao batalhar é parecido, sendo que a fadiga é mais lenta e, obviamente, os pontos que são ganhos após as lutas são menores do que os bônus que ganhamos treinando. Portanto, escolhas bem plausível.

O problema é saber quando o Digimon está apto à ir até tal ponto no jogo.

É preciso salientar que os Digimons, por algum motivo desconhecido (ou falha mesmo), não possuem nível, mas os inimigos sim. Ao avistar um inimigo no mapa, seu nível é exibido logo acima ao lado de seu nome. As cores vermelha ou azul definem se o inimigo é muito forte ou não.

Bater ou correr?

Por conta dessa inconsistência de informações, o jogador não sabe se seu monstro é forte o suficiente ou não para enfrentar outros. E isso se torna confuso e desnecessário.

É comum uma vitória fácil sobre um Digimon nível 6, e uma derrota humilhante para um nível 3, independente da cor azul ou vermelha, ou mesmo do local. Além disso o level design, que também é bem limitado, contribui para o jogador ficar ainda mais perdido.

Isso torna a busca por níveis extremamente maçante e entediante, visto que acaba sendo necessário permanecer em apenas um local.

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Na sala de treinamento podemos deixar nossos parceiros mais fortes. Mas cuidado para não exagerar nos exercícios…

As batalhas do jogo são, por outro lado, interessantes e divertidas.

A luta é dinâmica. Além das habilidades e ataques comuns, existe ainda a Digievolução máxima, chamada de ExE. Esta faz com que os dois parceiros se fundam em um Digimon Mega, muito mais poderoso, e crucial nas batalhas mais difíceis.

Mas para isso, e necessário Digimons entrosados e no nível máximo de ligação e classe. E esta habilidade gasta o máximo de pontos de ordem, fazendo com que não seja uma tarefa simples.

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A batalha do jogo é dinâmica e divertida. O que torna cansativa é a frequência com a qual precisamos lutar batalhas praticamente iguais.

O Inferno é a Repetição…

Talvez o principal problema de Digimon World: Next Order: um level design que parece bem preguiçoso, não acrescentando nada à jogabilidade.

Os mapas variam entre planícies, desertos, ambientes quentes, montanhosos, etc. Nestes, haverão Digimons de todo estilo, dependendo até mesmo do horário do dia em que o local é visitado.

O estilo de evolução gradual dos monstrinhos implica visitar a mesma área dezenas ou até centenas de vezes. Os itens e materiais ficam sempre nos mesmos lugares.

Não é necessário procurar por qualquer coisa. Os materiais são exibidos no mapa e os itens são achados pelos próprios Digimons que avisam quando veem algo importante.

Isso significa que a repetição, que já é entediante, fica ainda mais complicada se os mesmos itens estão sempre nos mesmos lugares, todas as vezes. A sensação é que o personagem e um simples bot, fazendo a mesma coisa sempre…

Uma característica que denota algo de procedural, mas no fim das contas o jogador não está sendo recompensado de forma alguma. Uma medida vista como preguiça ou pura opção dos desenvolvedores.

Gráficos (nada) de outro mundo

Digimon World: Next Order foi lançado primeiro para o PlayStation Vita. Mas é preciso esclarecer que o argumento “é um jogo de PlayStstion Vita” seria válido caso o jogo estivesse sendo analisado no Vita.

Dito isto, os gráficos do jogo não são nada inspirados. O mundo digital tem uma característica particular e uma ambientação muito interessante. O nome das áreas sempre envolve algo relacionado à informática e coisas do gênero. Server Desert, Logic Volcano, MOD Cape, etc..

Os nomes também são traduzidos visualmente como bancos de servidores no deserto e números de 0 a 9 no vulcão por exemplo. No entanto, o que incomoda mais talvez seja o estilo 3D do jogo.

Um estilo ser uma característica de tal franquia não significa que ele não possa sofrer algumas mudanças que o torne mais palatável. Digimon World: Next Order, seria mais bonito visualmente com um gráfico estilo cel-shading, por exemplo. Algo que o retratasse de forma animesca e que até se mesclaria com o enredo e o estilo do jogo de certa forma.

Olhar para este jogo e confundi-lo com um título de PlayStation 3 ou 2 não seria nada absurdo. Ainda assim, é possível apreciar algumas áreas, sobretudo a cidade de Floatia (cidade principal do jogo), conforme vai evoluindo.

O design dos personagens também é bem comum. Mais uma característica da série. Nada demais.

“Hey, listen!”

A trilha sonora segue a mesma linha dos gráficos. É básica, não inspira e não traz nada de muito diferente ao jogo. É possível apreciar a música em algumas áreas, que são de muito bom tom e funcionam bem com o ambiente. Mas no geral, a trilha sonora cumpre seu papel sem muito alarde.

Já a sonoplastia (sendo o mais cordial possível) irrita. Os sons são estridentes. Talvez isso seja opção, visto que que é preciso saber que os Digimons estão com fome ou querem algo.

A dublagem em inglês é terrível. Para efeito da análise foi utilizada a protagonista feminina que possui uma voz deveras irritante. O alento é que ela fala pouco, especialmente durante as batalhas.

Ainda sobre os efeitos sonoros, talvez o fato que os tornam tão incômodos seja que estes aparecem a todo momento. Algo que lembra (e não da melhor maneira possível) a fada Navi, da franquia Zelda. Ou a (abominável) Ashley Graham, de Residente Evil 4.

Digimons são campeões?

Digimon World: Next Order não é o melhor jogo da franquia. Mas não chega a ser o pior deles. Possui vários problemas, e muitos deles capazes de afastar até o fã mais ávido da série.

Mas tudo isso pode ser uma questão de perspectiva.

Cuidar de seu Digimon, fazê-lo evoluir em busca de um monstrinho que agrade, ou que seja muito forte é sem dúvidas o maior prazer em todo o jogo. As batalhas são dinâmicas e podem ser divertidas. O que destrói essa diversão é a frequência com a qual é necessário lutar batalhas literalmente iguais, o que traz grande desgaste.

Passando muito perto de ser um desastre, o fator diversão e o apelo aos bichinhos virtuais já clássicos fazem com que o jogo mereça um selo Prata. Portanto, espere uma promoção.

Renan Klopper
Renan Klopper
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Ex-redator.