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Nioh: Vale a pena?

por Raphael Batista
Nioh: Vale a pena?

“Samurai”, em japonês, significa “aquele que serve”. Não distante da realidade, William Adams torna-se aquele que serve a humanidade na luta contra os temíveis Yokai. Este é Nioh.

Numa e1popeia oriental, o jogador assume o controle de um pirata que sente conexões extremamente fortes com o caminho do Bushido, livro de práticas samurais. Em uma história além do bem contra o mal, mas também de descobertas pessoais e aceitação do destino próprio.

A história antes da história

O contexto histórico no qual Nioh se passa é, no mínimo, interessante. Acostumados aos jogos futuristas ou pós-contemporâneos, os jogadores logo deparam-se com uma nova realidade: a vida arcaica dos séculos XVI, entre os anos de 1598 a 1600.

Nesses anos, a Inglaterra, potência em comércio e expansão, disputava territórios coloniais nas Américas contra a Espanha. Rivalidade tal que gerou conflitos diretos e acirrados confrontos pelo domínio do mundo.

Durante o decorrer do século XVI, a rainha Elizabeth I enfrentou ataques incisivos da Espanha sob o controle de Felipe II. Ataques como aos navios de Francis Drake (sim, aquele) enfraqueceram a esquadra naval britânica ao longo dos anos.

Com isso, a guerra chegou ao ápice na virada do século. Desejosas pela vitória, as realezas de ambos os países recorreram a meios esotéricos para ganharem vantagens sobre o inimigo. Um emaranhado político, sem dúvidas.

Um chamado atendido

É neste conflito político-territorial que William Adams, um famoso pirata, entra em cena para protagonizar uma aventura que, alem de riquezas, se mostra de descobertas.

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William Adams, o pirata.

O pirata foi contratado pelo reino inglês para encontrar e extrair a Amrita, uma pedra com poderes místicos. Para isso, contou com auxílio de um espírito guardião que o guiou até a localização exata.

Entretanto, sem maiores explicações de imediato, a Espanha utilizou-se deste poder para vencer batalhas diretas contra a Inglaterra. Consequentemente, Adams foi preso por sua “traição”.

Cabe ao jogador, ao longo da progressão do enredo, compreender quem esteve por trás da possessão da Amrita e seus possíveis desdobramentos.A

O Real e o Sobrenatural

A narrativa do jogo coloca o período histórico como um pano de fundo. Uma base, no qual as atitudes do pirata deram-se início. Porém, o foco da campanha principal, subitamente, passa a ser outro, demostrando ações obscuras em um cenário conturbado pelos Yokai.

O reino dos Yokai, dos demônios, foi fortalecido devido aos conflitos humanos, guerras, intrigas, entre outros. Os Yokai se alimentam da maldade existente, fazendo com que se proliferassem no planeta.

Assim, a jornada de William Adams acaba por ir muito além de conflitos políticos, mas sim uma revolução do seu próprio ser, um chamado a ser atendido para confrontar as forças do mal e banir as trevas.

Essa narrativa se desenrola, essencialmente, por meio dos avanços de fase e na escolha de missões. Ao progredir na história principal, o jogador contará com detalhes dos seus objetivos e os porquês de determinados acontecimentos. As cutscenes revelam as relações e diálogos esclarecedores do passado em questão.

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Muitos esclarecimentos acontecem durante as cut-scenes.

Inicialmente, é muito provável que todos fiquem confusos sobre o enredo (o autor deste artigo admite que passou por esta situação). Contudo, ao longo de leituras disponíveis sobre as missões, e contatos com outros personagens, as entrelinhas começaram a esclarecer. Ainda assim, mesmo com esta progressão, existem várias interrogações a serem respondidas.

O jogo cumpre, logo de imediato, seu papel no aspecto do enredo: causar instigação. Sem maiores informações, o jogador fica desejoso por entender o que está acontecendo e vidra os olhos na tela para observar as interações e diálogos.

Foi uma proposta arriscada, uma vez que a confusão inicial pode gerar a desmotivação para que os jogadores continuem a jornada. Entretanto, o universo construído e o contexto inserido, promovem o interesse contínuo.

“You… Shall not… Pass!!!”

O significado de “Nioh”, em japonês, é “não passarás”. Tal título não poderia ser mais condizente com a jogabilidade do game.

Sim, o jogo é difícil. Mesmo.

A principal proposta de Nioh, desde sua concepção, é a sua jogabilidade desafiadora. Observada desde os inimigos espalhados pelo ambiente até os chefes extremamente rápidos, fortes e sombrios.

Porém, a dificuldade não é sua inimiga. É sua aliada para a evolução. É a peneira que separa o joio do trigo. Uma prova para os verdadeiros samurais… Ou para covardes.

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Esteja preparado: os chefes não perdoam.

Inicialmente, é importante comentar que o jogo não é injusto. Ele fornece todas as ferramentas para que o jogador progrida, desde armas diversificadas, até posturas adequadas para cada situação. O fracasso, portanto, é exclusivo de atitudes erradas.

Código de Posturas

Como todo bom samurai que sabe empunhar suas armas, Nioh fornece três (3) posturas de ataque:

  • postura alta, que prioriza ataques ferozes com um alto consumo de KI;
  • postura média, ataques e defesas equilibradas;
  • postura baixa, priorizando a defesa e agilidade, e com ataques que consomem pouco KI.

Alternar entre as modalidades está a dois botões ( R1 + X/ R1 + quadrado/ R1 + triângulo). Com isso, é possível manter a guarda baixa suportando ataques dos inimigos e, na hora correta, trocar para a postura alta e liquidar com eles.

A possibilidade dessa mudança garante muitas abordagens e conduções da batalha, abrindo um leque a disposição do jogador, para que tome as decisões táticas que julgar necessárias.

Possuir como opções tamanha variedade de possibilidades ofensivas e defensivas favorece, indubitavelmente, ao jogador para que ele tenha o domínio completo de suas ações para alcançar a vitória.

Armas

O arsenal de armas conta com seis (6) modalidades essencialmente:

  • Katana: arma de médio alcance com atributos balanceados;
  • Espada dupla: uso de duas espadas de pequeno alcance priorizando a agilidade e sequência de golpes;
  • Lança: utilizado para longas distâncias e possui bons atributos;
  • Machado: arma pesada com ataques devastadores de médio alcance;
  • Kusarigama: arma típica oriental de difícil manuseio para combates longos e curtos;
  • Arcos e armas de fogo: ideais para atrair os inimigos ou eliminar os mais fracos quando estão longe.

Dentro dessas categorias, ao longo de cada fase, é possível encontrar inúmeras armas com atributos e habilidades especiais diferentes, permitindo ao jogador escolher aquela que mais se encaixa com sua personalidade.

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As principais armas são apresentadas logo de início e cabe ao jogador dominar cada uma delas.

Mas cuidado! Você necessita ter o conhecimento de TODAS as categorias de armas. Isso porque alguns chefes são mais “fáceis” de lidar com armas específicas. Portanto, escolher uma preferida e não usar outras é sinônimo de morte certa.

KI

Assim como os equipamentos, o KI é uma crucial ferramenta. O KI, ou estamina como mais conhecido, dita o ritmo dos ataques e defesa numa batalha. Esgotar o nível de KI em uma sequência de ataques desenfreados resultará no protagonista cansado e totalmente vulnerável a golpes fulminantes dos adversários.

É preciso planejar muito bem cada movimento. Será muito comum o jogador manter um dos olhos no inimigo e o outro no nível de KI, para saber até onde o William consegue atacar.

Um elemento muito bem incluso no jogo é a possibilidade de ver a barra de KI dos inimigos. Logo, você mesmo saberá até onde os adversários podem atacar. Isso iguala os lados dos combatentes, já que impede que os monstros ataquem desenfreada e injustamente.

Conheca seu inimigo, e não temerá batalha alguma…

Sobre os inimigos, existem basicamente três modelos a serem enfrentados: os humanos, os Yokai e os chefes.

Os primeiros abrangem uma boa variedade, desde fora-da-lei peregrinos até ninjas.  São os mais fáceis a serem derrotados.

Os Yokai, como já citado, são os demônios que vagam pela Terra, alimentando-se de guerras e conflitos. Possuem várias formas, várias espécies e diferentes ataques. Progressivamente, novos monstros são introduzidos, e cada vez mais fortes.

Os chefes são os últimos inimigos de cada fase. Eles exemplificam exatamente a palavra “dificuldade”. Todos, sem exceção, são desafiadores. É raríssimo vencê-los na primeira tentativa (este que escreve conseguiu apenas uma vez).

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A cada nova fase liberada, Yokai mais fortes aparecem para o confronto.

Por isso, é preciso analisar os movimentos e padrões que os chefes possuem, para que, então, se possa escolher a arma correta, a postura ideal e os itens rápidos que podem auxiliar no embate.

Cada chefe possui um desenho artístico único bem característico de elementos orientais. O que é bem interessante, já que a imersão é ainda mais realista pela fidelidade com características japonesas.

Multiplayer

Como já noticiado aqui pelo Meu PS4, o modo multiplayer do jogo está sendo contestado pela comunidade gamer devido ao seu funcionamento.

O jogo não permite que o jogador acesse o mundo de seu companheiro sem antes ter concluído a missão no qual o receptor está. Ou, seja, você é obrigado a concluir a campanha sozinho.

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O modo multiplayer acontece somente em missões já cumpridas pelo jogador e facilitam demasiadamente o gameplay.

Ao contrário de Bloodborne, em que era possível o jogo cooperativo do início ao fim, em Nioh, você estará por conta própria até o final da campanha.

Isso porque as fases acabam se tornando demasiadamente fáceis dessa forma (cooperativamente). Durante os testes, pôde-se terminar os estágios sem grandes desafios, o que limita bastante o principal chamariz do jogo, que é sua dificuldade.

Seguindo a proposta primordial do título, a intenção é manter o nível de dificuldade elevada em todo tempo, mesmo às custas do modo multiplayer. Portanto, a lógica é coerente por manter o funcionamento desta maneira: despertando os verdadeiros samurais.

Mas falando do aspecto técnico, a conexão se desenvolve muito bem e rápida até. Nos momentos em que foi experimentado este modo, não aconteceu qualquer queda e o jogo desempenhou muito bem.

Mundo semi-aberto

Nioh apresenta, no que tange a liberdade de mundo, uma característica pouco usual. Comumente, ou somos inseridos em mundo aberto, com exploração e missões paralelas disponíveis, ou seguimos um roteiro pré-definido em um jogo linear.

Entretanto, Nioh oferta um pouco dos dois lados.

Ao término da primeira fase, o jogador é logo apresentado ao mapa, onde ele pode escolher seguir as missões principais ou realizar missões secundárias.

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Cada missão apresenta um briefing que situa os acontecimentos da região

As principais dão continuidade ao enredo no qual o jogo está assentado, enquanto as secundárias oferecem recompensas de armas e pontos para subir de nível.

Além dessa possibilidade, o mapa permite acesso ao Ponto Inicial, local em que é possível entrar em contato com o ferreiro para a produção de armas ou compra delas, acessar tutoriais de combate e outras opções.

Eventos especiais, chamados de Missão Crepuscular, são liberados em momentos diferentes. São missões de alto nível, com recompensas melhores, em que todos os inimigos a serem enfrentados são Yokai.

Ou seja, aquele ninja que você matou facilmente, agora é um monstro que pode executar o jogador com dois (2) golpes.

Inclusive os chefes finais de cada fase também precisam ser re-enfrentados, com seus padrões de comportamentos igualmente alterados.

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Nas missões crepusculares, os cenários tornam-se mais sinistros e os inimigos mais difíceis.

Com essas missões especiais, os jogadores que apreciam um desafio a mais podem deleitar-se com a dificuldade ainda mais elevada. Obviamente, a história beneficia os ousados. As recompensas são ótimas!

Beleza insossa

É neste momento em que o jogo tem sua falha. Os gráficos não apresentam a qualidade padrão da oitava geração em todos os aspectos.

Obviamente, a diversão nunca esteve pautada no motor gráfico do título. O brilho do jogo está em sua história e sua jogabilidade, mas os gráficos são apenas “aceitáveis”.

Os cenários escuros, devastados pela guerra, contribuem para a dificultar a riqueza em detalhes e não promover a exuberância do lado artístico, mas para quem jogou Dark Souls 3 ou Bloodborne, observa-se um desempenho visual muito belo, mesmo em ambientes onde prevalece a morte.

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Nem feio, nem belo. Os gráficos são o suficiente para uma boa experiência.

Em Nioh, os gráficos dos cenários promovem uma boa experiência., sendo o level design e dos personagens mais elaborados e bem feitos. William, Hanzo e outros, ganham traços bonitos e características marcantes, o que favorece a singularidade de cada um.

Tal falha não chega a ser algo que incomode ou que seja feio, mas ficou abaixo do nível de outros jogos consagrados desta geração, por exemplo.

Um Dark Souls de samurai?

Não. Absolutamente, não. E isso deve ficar claro.

Um paralelo entre a franquia de Dark Souls e Nioh foi traçado desde o momento em que o jogo foi anunciado, ganhando forças quando a beta demonstrou o nível agudo de dificuldade.

Porém, é nítido observar a diferença entre os games e, com toda certeza, afirmar que são jogos totalmente distintos.

Nioh não é Dark Souls com uma roupagem de samurai. Tal assertiva é desmerecimento de um trabalho excelente da Koei Tecmo. Nioh possui um brilho único, que os jogadores sentem a partir do momento em que tomam o controle de William.

Além da diferença de como é contado o enredo, (na franquia da From Software algo bem mais subjetivo e contado através de itens), em Nioh a jogabilidade abre oportunidades evolução com a aquisição de habilidades e mudanças de postura para que o ritmo da luta seja alternado.

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A jogabilidade exímia de Nioh abre um imenso leque de variedades para o combate

A dificuldade é, sim, um fator semelhante aos dois títulos. Porém, é certo dizer que Nioh tem se provado ser ainda mais desafiador.

Uma jornada recomendada

Nioh entra para o line-up de exclusivos para o PlayStation 4 em 2017 de modo memorável e inquestionável.

O titulo abrange características que o tornam desafiador e instigante, de modo que cada missão cumprida seja uma conquista pessoal para o jogador e o faça se aprofundar num enredo tão bem construído.

Mesmo com um visual não tão exuberante, os aspectos de jogabilidade como posturas e variações de armas são destaques. Além disso, o enredo garante um bom envolvimento, com muitas descobertas.

Porque não obrigatório? Porque aqueles jogadores que querem ter uma experiência casual, ou mesmo chegar em casa após um dia cansativo de trabalho e relaxar jogando videogame, não terão espaço em Nioh.

O chamariz do jogo é o desafio constante. Se a procura é por um jogo para aproveitar a noite sem estresses, então é bom evitá-lo. Agora se o jogador não se importa com uma proposta difícil e ousada, e é comprometido com a vitória, então Nioh é a pedida certa!

Raphael Batista
Raphael Batista
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Formado em Teologia e apaixonado por PlayStation desde sempre. Jogos preferidos são The Witcher 3, Metal Gear Solid, God of War e Marvel's Spider-Man.