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No Man’s Sky: Vale a Pena?

por Daniel dos Reis
No Man's Sky: Vale a Pena?

“O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.”, Cora Coralina.

Poderíamos usar a citação da poetisa brasileira para exemplificar o conceito fundamental de No Man’s Sky, obra recém lançada pela Hello Games sob a tutela da Sony Interactive Entertainment, mas a ‘caminhada’ é um pouco mais complexa do que aparenta a citação.

Cercado de altíssimas expectativas, o game chegou às prateleiras com o propósito de oferecer uma exploração nunca antes vista, um rico contexto sci-fi e variações que fariam com que os jogadores se perdessem por horas frente ao monitor.

Já fazendo um prequel das conclusões, o projeto atendeu aos propósitos em partes, oferecendo realmente uma grande variedade, mesmo com alguns pontos a serem considerados.

A história, é você quem faz

O jogo começa de forma seca. Sem explicações aprofundadas de como você foi parar onde está ou mesmo quem é você. Não há uma preocupação neste sentido.

Logo de início já fica claro alguns aspectos. É quase tudo por conta do jogador. O game não exibe tutorias ou explicações como na maioria dos jogos que gritam, através de marcações em mapas e em lista de objetivos, onde é o destino.

O máximo é: “você deve consertar sua nave e sair daí, mermão“.

E logo aqui já cabe esclarecimentos importantes. Não existe um enredo linear, não existe história, não existe narrativa. No máximo, conceitos sobre raças alienígenas, universos e algumas criações.

Fica implícito.

Um prato cheio para aqueles que gostam de descobrir por si mesmos os segredos e eles estão aos montes através de monumentos, linguajares ocultos, animais exóticos.

O jogo também foge do conceito “busca espiritual”, longe disso por sinal. Não espere encontrar aqui algo próximo a Journey, por exemplo.

A proposta é bastante clara, desde o início da apresentação da ideia – exploração. Sua principal atividade será descobrir o que existe no universo.

Simplicidade do gameplay

Também no começo, o controle das ações já é repassado ao jogador sem qualquer contextualização.

Mas, não é tão assustador quanto parece. Os menus são simples, fáceis de navegar, as opções auto-explicativas e leva pouco tempo para entender que existem três partes fundamentais: Exotraje, Nave e Multiferramenta.

O traje gerencia sprint, proteção, blindagem e jetpack. Na nave são instaladas tecnologias de combates, propulsão e navegação. Por fim, a multiferramenta, onde fica a arma, scanner e tecnologias de mineração.

Cada uma dessas abas contam com slots, nestes espaços ficam armazenados os itens e produtos criados. Regra simples, quanto mais slots melhor.

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No Man’s Sky – Menus

E uma dos pontos falhos diz à respeito a estes slots. Ele são limitadíssimos, mesmo que com o tempo você consiga amplia-los através da aquisição de novas naves e afins, ainda não é suficiente.

Isto se torna crítico pois está diretamente relacionado ao pilar exploratório do game. Como existem muitos elementos nos planetas e cada um ocupa um slot, é estritamente necessário cuidar para que sobre lugar para tudo.

A falha é que as tecnologias coexistem com os lugares de armazenamento de recursos. Às vezes você tem que decidir se deseja uma melhoria para o jetpack ou mais espaço para itens, por exemplo. Em uma proposta onde você é obrigado a coletar vários minerais, torna-se infundada uma implementação deste nível.

O controle da nave e da câmera são normais. Não exigem muita perícia e respondem satisfatoriamente a todos os comandos.

Explore, explore…colete…colete

O objetivo fundamental do título não é chegar ao centro do universo ou ir em direção ao Atlas. Estes são alvos secundários.

O fundamental do game é explorar.

Ao chegar em um planeta novo pela primeira vez, o encantamento é inevitável. A pujança das cores, a combinação esdrúxula das espécies e, principalmente, a vastidão de tudo é impressionante.

É fácil se “perder” por horas escaneando todas os seres vivos e plantas peculiares. O visual também ajuda na tarefa. Alguns planetas são belíssimos e certamente poderiam gerar papéis de parede com a captura de imagens.

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Digo “alguns”, pois nem todos são, obviamente. Outros são mais áridos e provocam um sentimento contrário, não incentivando a pesquisa.

E nestes locais, feios ou bonitos, os jogadores devem coletar recursos para progressão. Para voar até uma outra galáxia, é necessário combustível e para conseguir o material é imprescindível que a multiferramenta esteja “alimentada”, que também requer isótopos (carbono e plutônio). Em suma, para conseguir um, você precisa do outro.

Neste compasso, a atividade acaba por gerar um loop que se torna repetitivo com o tempo.

Caberá ao jogador balancear as atividades. Se o propósito for unicamente progredir, o jogo se tornará rapidamente maçante. No Man’s Sky não deve ser jogado como se fosse um speedrun.

Entre uma atividade e outra cabe uma contemplação aos locais. Principalmente em exaltação ao algoritmo processual que propiciou toda mágica. A geração randômica da fauna e flora, principalmente da primeira, é notável.

Além disso,  a prática auxilia no acúmulo de dinheiro. Cada animal ou planta catalogada rende pontos que podem ser úteis e acelerar a evolução.

Um contra-ponto ao ciclo vicioso que o game pode se tornar se não houver dosagem.

Elementos de combates e sobrevivência

Entre uma galáxia e outra, os jogadores podem entrar em conflito com as sentinelas, a “polícia dos planetas”, entrar em combates contra os piratas espaciais ou ‘brigar’ com as espécies mais hostis.

Em alguns locais, as sentinelas (drones ou grandes robôs) podem não ser uma ameaça real. Eles atacam quando você é pego em flagrante, mesmo assim, é bem fácil liquidá-los.

Mas, em planetas onde os recursos estão em extinção, os guardas são realmente furiosos. Somente nestes casos os combates a pé são bem intensos. Enfrentar aquelas grandes estruturas metálicas pode gerar bons momentos de desafios.

Claro que não é nada comparado a um título de FPS dedicado, mas incrementa o gameplay.

Já os combates espaciais podem ser frustrantes se forem encarados como uma representação de Star Wars ou Star Trek. Eles até empolgam em alguns momentos, geralmente quando sua nave é atacada por piratas espaciais e você recebe ajuda de alguma raça amiga (lembre-se de fazer amizades). No mais, estes momentos são mais raros.

E por fim, a sobrevivência

Toxicidade, temperaturas elevadas, frio extremo ou outras variações podem representar perigo, não muito, mas podem. Para sobreviver, basta manter a proteção do traje sempre carregada.

Mesmo que os trailers tenham enfatizado estes pilares, na realidade eles são elementos que circundam a proposta central.

Comerciantes do espaço

Uma das promessas era de que o game contaria com uma economia robusta, com diversas possibilidades de negociação, onde um produto poderia ser altamente requisitado por uma raça, que supostamente valorizaria muito mais determinados itens.

Na prática, isso é mais limitado.

Os diálogos e negociações com os aliens acontecem nas Estações Espaciais ou em Locais Seguros nos planetas. Nestes, basta se aproximar e interagir com a forma de vida.

No começo, serão exibidos caracteres confusos que não fazem sentido algum, mas conforme os vocabulários vão sendo descobertos através dos monumentos e monólitos, a compreensão começa ser mais clara. Acompanhar o desenvolvimento de um novo idioma é algo interessante, mostrando claramente que está ocorrendo progresso no gameplay.

Entretanto, o sistema é simplório. No máximo é exposta uma tabela de itens e você nota se o mercador está comprando por mais ou menos. Geralmente, a variação fica em torno dos 4%, não favorecendo a pesquisa com outras formas de vida. Afinal, viajar para um outro planeta, gastando combustível somente para obter um desconto mínimo não vale a pena.

O que tem lá?

Um dos méritos da Hello Games foi inserir diversos mistérios no game. Você se sente intrigado com as raças, com revelações textuais, desafiam a saber o que existe por trás das cortinas.

Os próprios objetivos: chegar ao centro do universo ou descobrir o caminho até o Atlas são desafiadores. Afinal, o que é o Atlas? Uma entidade divina? O que tem no centro do universo? Para que servem os buracos negros?

Além disso, algumas pedras misteriosas encontradas em alguns locais deixam indicado que existe um grande mistério no ar.

Tudo isso provoca um desespero agradável. Aqueles que adoram desvendar simbologias, enigmas e coisas ocultas vão encontrar em No Man’s Sky uma grande oportunidade.

Uma proposta No Man’s Sky

No Man’s Sky não é um jogo para qualquer jogador. Certamente você já deve ter entendido isso. Trata-se de uma proposta destinada a um perfil específico de gamer.

O intuito aqui é bastante claro: experienciar um jogo de exploração.

Não espere por ação desenfreada, combates épicos ou complexidade a la RPGs, nada disso.

Isso faz com que o jogo seja ruim? Definitivamente, não. É necessário no entanto analisar se ele cabe em seu perfil de jogador.

Problemas técnicos

Mesmo que os desenvolvedores da pequena equipe da Hello Games mereçam muitos elogios por criarem um universo procedural com tantos méritos, a equipe cometeu deslizes.

O mais grave deles são os crashes. Durante os testes, ocorreram mais de 4 fechamentos inesperados. Somente ao atravessar os buracos negros, espécie de portais que aceleram as viagens, o aplicativo foi brutalmente encerrado em três ocasiões.

Além destes, os pop-ins também podem incomodar os mais criteriosos, contudo estes podemos considerar como justificáveis, haja vista o tamanho dos planetas e a dinamicidade que é entrar e sair de órbita em poucos segundos.

O fim da jornada

No Man’s Sky chegou envolto a um dos maiores hypes do ano. Prometendo exploração ampla, universos infinitos e variedade abrangente, o game no entanto peca em muitos aspectos e acerta em outros.

A jogatina pode ser tornar monótona caso o intuito seja sempre avançar pelas galáxias em busca do centro do universo ou do Atlas. Os planetas, apesar de serem diferentes entre si, conseguem ser iguais em geografias, pontos de interesse e estilos. Por vezes, tem-se a sensação de se estar andando em círculos.

As interações com os NPCs também deixam a desejar, já que tudo é bastante estático, limitando-se as conversas textuais sem maiores diversificações.

Por outro lado, o trabalho da Hello Games é louvável em muitos aspectos, a começar pela audácia em colocar nas prateleiras um jogo diferenciado, com uma proposta bem ampla, onde o ponto chave é estimular a exploração, contemplando cada passo.

Desenvolver um algoritmo que gera, de forma única para cada jogador, um universo supostamente diferente merece elogios pelo risco que se corre em inovar, estando é claro, preparado para as críticas que certamente chegarão.

Basta abrir o Mapa Galático para sermos suplantados por aquela sensação de que somos apenas um grão no universo. Cada ponto luminoso é uma galáxia e cada uma delas conta com vários planetas diferentes, sendo que aparecem milhares de estrelas no espaço.

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Cada uma destas estrelas é uma galáxia.

Destaque ainda para o visual que é belo e atende ao escopo do projeto e para trilha sonora desenvolvida pela banda de rock instrumental-eletrônico 65daysofstatic. Já pelos trailers, a qualidade do material fica evidente.

Por fim, No Man’s Sky parece estar destinado aquele tipo estereótipo “ame ou odeie”. Basta você analisar os comentários dos nossos artigos especiais. Muitos estão extasiados com a ideia, já outros não gostaram nenhum pouco.

Você deve ter entendido que o jogo atua em um nicho específico. Para aqueles jogadores que gostam de ficção científica, exploração cadenciada e muitos mistérios, o título é altamente recomendado já que entrega o prometido, mesmo com algumas ressalvas.

Por outro lado, aqueles players que preferem ação, contextualização e boas doses de emoção, este jogo não se enquadra.

Além destes, existe um outro grupo, aqueles curiosos que se interessaram pela proposta e mesmo assim ainda se sentem receosos. Para estes, o mais adequado seria sugerir uma experimentação antes.

Ao contrário dos demais jogos, assistir vídeos no YouTube não garante, de nenhuma forma, que o game será apreciado ou rejeitado. O projeto é bastante singular neste aspecto. Ele precisa ser experimentado por si só, muito em virtude do seu modelo, onde cada um tem uma experiência diferente.

Então, para os indecisos, é recomendado prudência e experimentação. Que tal esperar um pouco ou jogar na casa de um amigo?

Para os exploradores, aqueles que visitam tudo, contemplam e apreciam a jornada, o jogo é recomendado. Já os interessados, mas indecisos, é melhor esperar uma promoção. Por fim, os que não gostaram da proposta, obviamente é melhor reservar recursos financeiros para outro jogo.

*O jogo foi cedido pela PlayStation para avaliação

Veredito

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Daniel dos Reis
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Jogando agora: Horizon Forbidden West (PC)
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