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Aragami: É indie Mas…

por Renan Klopper
Aragami: É indie Mas...

Muitos projetos independentes chegam à Steam fazendo considerável sucesso até que migrem para os consoles. Aragami é um destes casos: chamou tanta atenção que acabou ganhando uma versão para PS4.

O game chegou ao PS4 com todo seu ar sombrio, arte característica, referências a jogos clássicos, enredo que poderia facilmente figurar como uma das tantas lendas japonesas e um estilo de jogabilidade furtiva que bebe de muitas fontes, mas ainda consegue ter sua própria identidade.

  • Jogo: Aragami
  • Desenvolvedores: Lince Works e Two Feathers
  • Distribuição: Sony Music
  • Onde encontrar: AQUI

Nascido da escuridão

A princípio, Aragami, o protagonista do jogo, parece tão desorientado quanto nós no começo da jogatina. Caindo de pára-quedas em um lugar desconhecido, a única opção é seguir em frente rumo a uma luz azulada bruxuleante.

Eis que desta, projeta-se a imagem de uma mulher, auto apresentada como Yamiko, responsável por trazer Aragami à vida. Na verdade, segundo Yamiko, o protagonista é um espírito das sombras, invocado por ela através de um ritual. A moça explica que foi presa pelo Exército da Luz e viu nele uma chance de resgate.

O jogo se passa no Japão feudal em uma era onde muitas guerras aconteciam e lendas foclóricas eram criadas. Todo o enredo pega emprestado partes destas histórias para formar sua própria trama.

Yamiko conta que fazia parte dos Nisshoku, o Exército das Sombras, que fora sobrepujado pelo Kaiho, Exército da Luz. Com a derrota dos Nisshoku, ela fora aprisionada juntamente com outros remanescentes, incluindo a Imperatriz das Sombras.

Cabe a Aragami ser guiado pela projeção de Yamiko em busca dos talismãs que, de acordo com a mulher, irão libertá-la e seu povo da opressão.

Essa é a história inicial do jogo. Mesmo que pareça uma verdadeira lenda japonesa repleta de clichês, conta com uma evolução muito bem desenvolvida nos primeiros atos e com algumas surpresas.

No entanto, o último ato e a reviravolta final do jogo não são nada surpreendentes. Na verdade, do meio para seu fim já é possível captar como tudo vai acabar e ele perde um pouco do impacto.

Uma curiosidade interessante sobre toda a ambientação é o significado dos nomes em japonês. Aragami, pode ser traduzido como Divindade Impetuosa ou Divindade Poderosa; Yamiko pode significar algo como Filha da Escuridão.

Nisshoku, que dá nome ao Exército da Escuridão, significa eclipse em japonês. E os personagens da alta patente do exército Kaiho são Hikaru (Brilhante) e Sora (Céu).

A sombra como aliada

Só de ouvir o nome “indie”, muitos agem com indiferença. Mas, a proposta de Aragami tem uma personalidade própria e muito atraente.

Sendo um ser da escuridão, Aragami controla as sombras e precisa delas para dar cabo de seus inimigos. Para isso, é necessário uso de Shadow Essence, a energia gasta pelo protagonista para efetuar suas técnicas.

Em exposição à luz intensa, a essência é minada, na sombra ela se recarrega. Os efeitos, quando sem essência ou com ela recarregada, fascinam de tão belos.

Aragami é um primor no que diz respeito à level design. O jogo é divido em 12 capítulos, cada qual com sua peculiaridade e um cenário extenso repleto de inimigos, obstáculos, luzes, sombras e muitas opções.

É impossível não associar o jogo à clássicos do gênero como Tenchu. O jogador caminha de forma furtiva sobre telhados de Pagodes (templos – não confundir com o Molejão, ok?), realizando abates aéreos, atirando kunais nos inimigos e utilizando técnicas sombrias muito eficientes e chamativas.

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Se isso não é muito Tenchu, eu não sei o que é.

Novas técnicas são desbloqueadas através de pergaminhos encontrados pelo cenário. Cada uma delas tem sua característica e o jogador poderá escolher a que melhor se encaixa em seu estilo. Seja ela uma armadilha no chão, um dragão de sombras, uma réplica para chamar atenção dos inimigos ou apenas uma forma de sumir com os cadáveres. São diversas opções, todas acrescentam muito ao gameplay.

O jogo consiste em ir atrás dos objetivos pelo cenário e se teleportar com as sombras para lugares distantes em um alcance pré-estabelecido. Não existe uma variedade de inimigos, são apenas três, basicamente. Um estático, outros que andam pelo cenário e os arqueiros. Todos fazem uso de suas armas de luz que, ao acertar o protagonista, ele “apaga” e retorna ao último checkpoint.

Existem três chefes ao todo. Enquanto os dois primeiros não são uma luta direta e sim uma batalha que consiste no uso das sombras, o chefe final peca exatamente por fazer o contrário e propor uma batalha mais direta. Algo que foge da proposta do jogo.

Um ponto negativo a ser ressaltado é a inteligência artificial dos inimigos, que é mais artificial do que inteligente, por assim dizer. Praxe ou não em jogos do gênero, os oponentes são burros.

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Uma das habilidades permite marcarmos os inimigos. Comum em jogos do gênero como Splinter Cell, por exemplo.

Uma característica muito importante e fundamental para o perfil de Aragami é o fator replay. Como dito anteriormente, o jogo é dividido em capítulos. Ao fim de cada um deles, é exibida uma avaliação sobre a performance do jogador neste cenário, oferecendo pontuações por ações e medalhas caso nenhum inimigo tenha sido executado, tenha liquidado com todos ou não ter sido descoberto.

A cada dificuldade, novos inimigos são inseridos e situações diferentes são empregadas para complicar ainda mais e tornar o gameplay mais divertido. Isso faz com que o jogador queira jogar mais vezes, tanto para conseguir as medalhas quanto para os troféus.

Temos platina sim!

Esse talvez seja um dos pontos mais chamativos de Aragami para jogadores que gostam de jogos independentes. O game conta com uma lista de troféus que são, ao mesmo tempo, simples e desafiadores de se conquistar. Além das conquistas serem legais, os nomes dos troféus são referências diretas a jogos conceituados, uma sacada muito bacana para quem aprecia easter eggs.

O troféu mais cobiçado do jogo, a Platina, fará com que o jogador repita diversas vezes cada cenário. Transpor um cenário repleto de inimigos é um desafio e tanto.

Falando nisso, como uma forma de recompensa, o jogo tem skins variadas. As mais alternativas são desbloqueadas conforme conquista de medalhas.

O jogo é repleto de alternativas chamativas para que o jogador se empolgue em continuar jogando. E jogar Aragami é muito divertido, desafiador e recompensador.

Detalhes em meio à escuridão

Tecnicamente, Aragami cumpre seu papel. A arte gráfica do jogo é bonita e traz toda a originalidade do jogo. Os gráficos são característicos ao ponto de identificarmos o game só com uma imagem.

O jogo se passa todo em uma noite e os desenvolvedores fizeram questão de utilizar uma lua fascinante, que indiretamente também tem sua representatividade no próprio enredo do jogo, mostrando o passar do tempo.

As cutscenes são todas animadas como se fossem páginas de mangás clássicos coloridos. As cenas, apesar de curtas, repassam a devida emoção.

No entanto, temos que pontuar aqui um dos problemas de Aragami: O jogo parece não comportar muita informação na tela e quedas na taxa de quadros são facilmente perceptíveis.

Além disso, mesmo se tratando de um jogo stealth, o jogador pode sentir o processamento lento no decorrer dos cenários. Vez ou outra, é possível notar que o game parece estar em câmera lenta.

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A bela arte e a magnífica lua de Aragami, que nos vigia ao longo de todo o jogo.

Também presenciamos cenários sendo construídos caso alcancemos áreas que supostamente não deveríamos alcançar. Tais problemas não chegam a afetar o gameplay, mas é algo se deva considerar.

As animações de morte com a espada não são nada originais. São duas ou três diferentes e não causam tanto impacto como talvez devessem. O mesmo podemos dizer sobre os sprites dos inimigos, pobres. Todos os inimigos são basicamente iguais.

Por sua vez, trilha sonora que permeia o jogo como um todo é bem simples e intimista. Pode-se dizer que se tratam daquelas trilhas que admiramos por não percebemos que a mesma está ali. Suave e serena, a trilha sonora praticamente dita o ritmo pela escuridão.

Confira uma das composições:

Vale a pena?

Por mais independente que Aragami seja, ele leva o termo ao pé da letra. É um jogo repleto de originalidade que busca influências explícitas em clássicos reconhecidos, mas conta com sua identidade.

Mesmo que o protagonista não seja o mais carismático de todos, é possível identificar seus conflitos internos e motivações, até nos identificarmos com ele – embora o enredo peque um pouco no último ato.

A ótima trilha sonora, fruto de um trabalho meticuloso e primoroso da Two Feathers também é um do diferenciais que fazem com que o jogo tenha sua própria identidade.

Level design impecável e o fator replay altíssimo, bem como a platina tão amada por muitos, fazem com que Aragami seja um jogo muito gostoso de jogar mesmo com alguns problemas relacionados ao processamento do jogo e bugs de cenários aqui e ali.

Veredito: É indie mas… é legal!

O bom

  • Fator replay;
  • Visual e trilha sonora;
  • Diversidade de habilidades;
  • Platina.

O mau

  • Último ato do jogo;
  • “Inteligência” artificial;
  • Quedas na taxa de quadros;
  • Inimigos e animações de morte pouco variadas.

Para quem jogou e gostou de:

  • Tenchu;
  • Soul Reaver;
  • Metal Gear;
  • Splinter Cell.
Renan Klopper
Renan Klopper
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Jogando agora: Nada no momento.
Ex-redator.