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Assassin’s Creed Chronicles: Russia – Vale a pena?

por Raphael Batista
Assassin's Creed Chronicles: Russia - Vale a pena?

Após eventos ocorridos na China e Índia, o fechamento da série Chronicles de Assassin’s Creed dá-se ambientado na Rússia de 1918, atribulada pela instabilidade política a beira de um golpe revolucionário liderado por Lenin.

O último episódio da trilogia pode ser considerado o mais desafiador entre seus precursores, tendo sua direção artística mais trabalhada e desenvolvida.

Pecando em erros técnicos e “punindo” o jogador pela curva de aprendizado extremamente desbalanceada,  o título da Ubisoft não fecha a saga com chave de ouro, mas demonstra uma autenticidade digna de obtê-lo na consagrada biblioteca de jogos.

Sem encontrar spoilers acerca do game, confira a análise objetiva se vale, ou não, a pena em jogar Assassin’s Creed Chronicles: Russia.

Prefácio

Após o divertidíssimo título vivenciado na India, as expectativas eram altas para a obra que abordaria o período histórico da Revolução Russa, ainda mais pela riqueza de detalhes possíveis a serem explanadas.

No controle de um assassino velho, cansado e frustrado, chamado Nikolai Orelov, o jogador é levado a controlá-lo para recuperar um objeto místico (mais outra vez) das mãos dos templários.

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O inédito desta aventura trata-se na alternância entre personagens, já que é possível jogar com a duquesa Anastasia Romanova em determinados momentos e resolver puzzles em conjunto com Nikolai.

O jogo conserva a jogabilidade 2.5D com cenários abastados de itens, beirais, esconderijos, todos para incentivarem o modo stealth que é o foco da série Chronicles.

Sendo melhor que o episódio da China e um pouco inferior ao título ambientado na Índia, a aventura do assassino Nikolai consegue fechar a franquia com novos recursos interessantes que garantem uma experiência diferenciada, mas acaba falhando pela superficialidade adotada em tratar um período histórico conturbado e pelos bugs espalhados pelo jogo que acabam atrapalhando a jogatina.

Enredo… Ou pano de fundo

É reconhecido por todos o excelente trabalho da Ubisoft na retratação criativa e elaborada dos períodos históricos abordados nos jogos da franquia original de Assassin’s Creed, sendo uma imersão cultural extraordinária com características que cultuam fielmente a época vivenciada. Porém, tal qualidade não pode ser relembrada em ACC Russia.

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Mesmo sendo o título da série com maior carga emocional e dramática ao desenrolar da campanha, fica a impressão de que os personagens são meros peões descartáveis dentro do contexto escolhido. Por exemplo, os protagonistas Nikolai e Anastasia poderiam estar na África, nos Estados Unidos ou até no Brasil, e ainda sim eles não seriam importantes para a condução do destino do local.

Em outras palavras, em um momento histórico onde os protagonistas poderiam desempenhas funções importantes, eles apenas estão inseridos em um local para viverem suas histórias à parte daquela vivenciada na Rússia de 1918. Isso acaba quebrando a lógica da escolha do país, revoltando até os fãs pela “negligência” da importância dos personagens.

Tratando propriamente do enredo, os que jogaram os antecessores perceberão a idêntica semelhança: o assassino precisa recuperar um artefato místico dos templários e lidar com as situações que acontecem ao longo da jornada.

Nada espetacularmente novo, o enredo continua o mesmo, mudando apenas o período tratado sendo este não relevante para o desenvolvimento daquele.

Visual e sonoplastia

A direção artística é o ponto fundamental que pode ser considerado um colírio aos olhos dos jogadores. As cores, os cenários, os objetos, tudo se mescla de forma harmônica agradável para a visão na proporção certa.

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Enquanto a simplicidade visual foi predominante na obra passada na China e a exuberância de cores alegres e vivas foram inseridas constantemente no episódio da Índia, o jogo atual consegue moderar entre os extremos, mesmo tratando de um período “obscuro”.

Mesmo sendo retratada uma Rússia destruída internamente pelos conflitos brutais através de cores frias e escuras, é comum perceber o contraste com tons de vermelhos espalhados pelos cenários fazendo alusão ao golpe comunista já pré-instaurado no país.

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Além do trabalho impecável da produção artística, a sonoplastia merece o mesmo reconhecimento. O trabalho com as vozes dos personagens é respeitável, com a dublagem (não brasileira) condizente com as emoções e momentos eufóricos e tristes  de cada protagonista.

É impressionante a sonorização ambiental representado por tiros perdidos, carros e trens a pleno vapor, tentando criar uma representação fidedigna das circunstâncias da atmosfera vivenciada dentro do país.

Jogabilidade

Assim como nos seus antecessores, o foco do jogo está na sua jogabilidade em 2.5D com a enfatização no modo stealth para a conquista das melhores pontuações dentro dos espaços de cada mapa.

À disponibilização do assassino está as conhecidas bombas de fumaça, um rifle de precisão e um cabo usado para gerar corrente elétrica ou puxar objetos. Os novos utilizáveis dão uma nova cara para a jogabilidade, sendo extremamente úteis em diversas situações em cenários repletos de inimigos ou quando o jogador está prestes a ser encurralado.

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Seguindo a mesma proposta desde o início da série, o jogador é desafiado a cumprir os desafios de maneira exímia para conquistar as medalhas de ouro em cada classificação: Sombra, Assassino e Silenciador.

Apesar da existência de 3 categorias, há um ponto central que as sustentam: para pontuar ao máximo, é preciso não ser visto e nem deixar rastros para trás. Ou seja, mesmo podendo escolher o modo operandis, é imposto que a jogabilidade furtiva seja aplicada.

É impossível ignorar o sistema de pontuações já que quanto melhor for o desempenho, mais rápido serão desbloqueadas as novas habilidades e, consequentemente,  menos difícil torna-se o jogo. Infelizmente, para os casuais, isso pode se tornar um pesadelo.

A curva de aprendizado é cruel para com aqueles que buscam um título para se divertir. Os desafios, ainda mais pesados neste último jogo, requerem uma excelência primária do jogador, não tolerando deslizes ou pequenos vacilos. Os combates diretos são amedrontadores e a presença de inimigos com um elevado nível de observação vão custar várias tentativas para os desatentos.

É possível sair explorar o cenário com combates diretos e utilizando seu poderoso rifle? Sim, mas o game pune o jogador que decide esse modo de abordagem. Além de obter as piores colocações e demorar para adquirir novos recursos para o Nikolai, não é considerado o método mais fácil para prosseguir a jornada. É bem provável que o jogador morra ainda mais do que o comum, caso escolha assim agir.

A situação pode tornar-se ainda mais frustrante quando um bug impede a visão completa do cenário, prejudicando o jogador e podendo-o levar à morte ao movimentar-se errado. Acontece o desaparecimento parcial do cenário, ou a presença repentina de um inimigo, ou até mesmo a falta de resposta ao dar um controle ao Nikolai. Querendo ou não, isso prejudica a experiência de um jogo que já é impiedoso quanto à jogabilidade.

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Infelizmente, o jogo coop entre Nikolai e Anastasia foi pouco explorado sem qualquer explicação plausível. A boa ideia de colocar uma personagem secundária para alternar com o protagonista perdeu o seu brilho devido a pouca quantidade de vezes em que os dois se encontram, jogando um balde de água fria naqueles que esperavam por uma maior interação.

Ainda sim, apesar dos contras, a função da jogabilidade em ACC Russia é atingida pela proposta de um título voltado para a furtividade, sendo um prato cheio para aqueles que vivem nas sombras como verdadeiros mestres assassinos.

Considerações finais

Assassin’s Creed Chronicles: Russia consegue, relativamente, cumprir a proposta que a esse spin-off pertence: proporcionar uma experiência alternativa e internacional do credo dos assassinos.

Mesmo não sendo um título memorável, a jogabilidade (deste em particular) pode agradar aos jogadores mais hardcores pelos desafios mais elevados e pela imposição do modo furtivo que requer uma estratégia precisa do gamer.

Tendo seus problemas e não sendo uma obra para todas as pessoas, o último episódio da saga poderia ter um desfecho melhor, se sua história fosse mais bem elaborada e criativa e, principalmente, tendo uma curva de aprendizado justa e coerente.

3 - Selo de Prata

 

Raphael Batista
Raphael Batista
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Formado em Teologia e apaixonado por PlayStation desde sempre. Jogos preferidos são The Witcher 3, Metal Gear Solid, God of War e Marvel's Spider-Man.