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Blade & Bones: É Indie Mas…

É do Brasil!

por Hugo Bastos
Blade & Bones: É Indie Mas...

Um dos motivos pelos quais esta análise de Blade & Bones levou certo tempo para ficar pronta é o fato de o jogo ser tão misto. Existem inúmeras fontes inspiradoras, e o título bebe de várias matrizes. Comparativamente falando, o jogo é como uma refeição, preparada com ingredientes reconhecidamente saborosos.

Pegue a história minimalista e combate punitivo de Dark Souls. Misture com o estilo Metroidvania, e acrescente uma pitada de jogabilidade ao estilo The Legend of Zelda. E ao final… veja que falta algo. Talvez por tentar se moldar com tantas facetas diferentes, o jogo falhe em criar a sua própria.

Mas o estúdio brasileiro Coffee Addict merece seus méritos. O jogo é uma tentativa louvável de homenagear os gêneros favoritos de seus criadores. E é inegável que, em determinados momentos, o jogo brilhe, mesmo que venha a falhar em outros. Assim, é uma aventura na qual vale a pena embarcar.

  • Jogo: Blade & Bones
  • Desenvolvido por: Coffe Addict Studio
  • Distribuído por: Coffe Addict Studio
  • Onde encontrar: Aqui (R$ 45,90 – 10% de desconto até dia 26 de junho / 15% para assinantes da Plus)

Entre espadas e ossos

A história de Blade & Bones pode ser descrita pela lore na página da desenvolvedora:

“Primeiro, Niro chorou e criou este mundo. Depois, ele chorou novamente e criou os Orins. Eles o desafiaram uma única vez, e com uma fúria incontrolável, ele tomou suas vozes. Este era um grande pecado, e agora as sete espadas jazem para sempre perdidas neste mundo. Para desafia-lo novamente, é necessário encontra-las. Tal missão somente pode ser executada pelos últimos sete dos Orins, que ainda buscam por ela…”

Resumidamente falando, o jogador encarna um dos últimos​ Orins, na busca pelas sete espadas, e a chance de enfrentar novamente seu criador. A história, propositalmente parca de informações, é complementada por inscrições em pedras e nas paredes de determinadas ruínas.

Fato interessante, é um dos pontos curiosos do jogo. O folclore tenta ser o mais intrigante possível, aumentando o senso de exploração e descoberta dos jogadores. E ele o faz bem, embora careça de uma base histórica do passado, e abuse de informações da história presente.

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A história do jogo, minimalista e críptica, é contada em forma de inscrições espalhadas pelo mundo. Fonte: Captura de Tela.

Não apenas isso. Os pedaços de informação podem ser adquiridos em qualquer ordem. O que, inicialmente, pode levar a uma confusão estranha em seu entendimento. Não que isso seja irremediável. Mas em um momento inicial pode fazer com que o interesse pela mitologia do jogo, outrora interessante, seja rapidamente perdido.

Um combate (nem tanto) digno da série Souls

Seus desenvolvedores fazem questão de salientar que um dos pilares para este jogo é a série Souls. E isto pode ser visto, além da história, nos combates. O sistema de mira, de ataques, a barra de fôlego (stamina), a dificuldade punitiva. Todos estes elementos estão presentes no jogo.

No entanto, este é o ponto em que as falhas são mais visíveis. Primeiro, porque uma das melhores nuances da saga Souls (especialmente Dark Souls em diante) é o seu vasto leque de armas possíveis. Cada uma com sua abordagem única, para cada tipo de jogador. Em Blade & Bones, o jogador contará basicamente apenas com espadas. E nada mais.

As armas vem em três tipos: comuns, raras e lendárias. Mas não se engane: todas as armas do jogo, invariavelmente, se mostram meras cópias de cada uma dessas categorias.

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O combate tenta ser digno da série que o inspira. Mas erros de design e execução o tornam complicado e enfadonho. Fonte: Captura de Tela.

Os controles no combate também não são responsivos. As animações de ataque são deveras “demoradas”, deixando o jogador a mercê de seus inimigos. Os controles são ineficientes, as rolagens não tem os famosos “frames de invencibilidade”. E os inimigos comuns possuem uma quantidade de vida ridiculamente alta.

Junta-se isso ao fato de que não há recompensas propriamente ditas e as armas terem durabilidade  limitada, e enfrentar inimigos comuns torna-se tedioso e evitável. Os personagens evoluem por meio de frutas e frascos, que aumentam a energia e fôlego. Isso faz com que uma das melhores ideias do jogo seja muito mal executada.

Mas as batalhas contra os chefes merece ser comentada. Quase como se o jogo fosse desenvolvido, neste ponto, levando-se em consideração suas falhas, e ajustando-o para fazer deste um momento digno de ser jogado e lembrado. As mecânicas funcionam bem, e o desafio está a altura.

Aquele mundo “zeldo-metroidesco”.

O jogo possui cinco áreas distintas, que variam de florestas a tundras congeladas. Apesar de tais discrepâncias, o mundo de Blade & Bones possui coesão. O jogador pode, ainda, escolher explorar cada área a seu bel prazer, o que dá a sensação de mundo aberto ao título.

Como todo bom jogo ao estilo “Zelda/Metroid”, nem tudo estará disponível logo de início. Alguns caminhos precisam ser desbloqueados por meio de determinadas relíquias. Existem enigmas inteligentemente desenvolvidos que precisam de raciocínio para serem resolvidos. E segredos que não podem ser revelados visitando as áreas apenas uma vez.

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Certos lugares – como este – não estarão acessíveis logo de início. Vasculhe, pense, e resolva. Fonte: Captura de Tela.

Isso dá a sensação de progressão necessária para prender o jogador por mais tempo. A vontade de descobrir cada segredo e explorar cada concavidade existente no jogo. Tudo isso é auxiliado pelo visual opressivo, solitário e fantástico. Neste aspecto, de fato, o jogo se sobressai com louvor.

Jogos como Titan Souls, Ico ou mesmo The Last Guardian transmitem a sensação de solidão, mesmo sabendo-se que o jogador não está só. Blade & Bones mostra que o mundo não precisa ser cinza para transmitir tais sentimentos. A passagem do tempo também deve ser comentada: não afeta apenas o aspecto estético, mas a jogabilidade como um todo.

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Para entender a história e seus meandros, será necessário muita exploração. Fonte: Captura de Tela.

Explorar, neste jogo, é, de certa forma, recompensador.

Música para louvar aos ouvidos (e vozes para atormenta-los)

A trilha sonora do jogo é de qualidade. Não há como negar. Em conjunto com os gráficos e level design, ajudam a ampliar o senso de solidão e desolação. Algo que deve ser comum, visto que o jogador é parte de uma raça basicamente extinta.

As músicas variam conforme a situação. De faixas épicas nas batalhas contra chefes, a melodias calmas e tranquilas em momentos de exploração. Os sons também estão em nível profissional, como o resvalar das espadas e movimentação dos personagens. O mundo, mesmo desértico, parece vivo.

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Os gráficos do jogo são simples, mas estonteantes. Fonte: Captura de Tela.

No entanto, algumas vozes não cooperam para fazer deste um ponto de louvor. A narrativa, por vezes, não condiz com o que acontece na tela. Tampouco com o que se mostra nas inscrições. E além disso, para um jogo produzido por uma empresa brasileira, a falta de localização das vozes foi uma falha que não pôde deixar de ser notada.

Mesmo assim, há a localização das legendas e menus. O que já auxilia aqueles que não dominam a língua inglesa a compreenderem um pouco do que se passa no mundo.

Mas Blade & Bones é bom ou não?

A resposta a esta pergunta é mais abrangente do que se imagina. O jogo tem diversos pontos positivos. Sendo inspirado por jogos de sucesso inegável, existem pontos que devem sempre ser considerados como positivos. Embora existam falhas. Falhas estas que podem ser demasiadamente preponderantes para alguns, e não para outros.

A dificuldade do jogo jaz, ainda em outro ponto. Um sistema de morte permanente (que não é tão permanente assim – e não vamos dizer o que isso significa, para não estragar a magnificência desta mecânica) é uma tentativa de trazer certo agouro para aqueles que se aventuram pelo título.

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Apesar de alguns percalços, o jogo segue em direção ao horizonte certo. Fonte: Captura de Tela.

Há, ainda, que se considerar que o jogo é um prato cheio para os caçadores de troféus. Uma platina não muito complicada, mas que pode trazer certa dor de cabeça para sua conquista.

A Coffee Addict Studio está, certamente, no caminho certo. Aparando algumas arestas aqui, polindo alguns vincos ali, e o jogo pode ser tido como o exemplo do que uma desenvolvedora deve fazer para não apenas homenagear os jogos que a inspiraram. Mas tentar moldar sua própria identidade. Um jogo dignissimamente brasileiro.

Veredito: É Indie mas… (Com certeza) É (muito) legal!

O que é bom:

  • Exploração;
  • Combate contra chefes;
  • Trilha sonora;
  • Gráficos.

O que não é bom:

  • Mecânicas gerais de combate um tanto confusas e falhas;
  • História demasiadamente desconexa;
  • Falta de elementos de evolução que justifiquem enfrentar inimigos anabolizados.

Para quem jogou e gostou de:

  • Titan Souls;
  • Metroid;
  • The Legend of Zelda;
  • Série Souls.
Hugo Bastos
Hugo Bastos
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Jogando agora: Nada no momento.
Hugo Bastos e revisor do Meu PS4, apreciador de uma boa comida, e de platinas difíceis. E viciado em Rogue Legacy, OlliOlli2, Dead Cells, e não dispensa uma boa noite de jogatina.