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Darksiders: Warmastered Edition: Vale a Pena?

por Hugo Bastos
Darksiders: Warmastered Edition: Vale a Pena?


“Quando o Cordeiro abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser vivente dizer: “Venha!”.

Então saiu outro cavalo; e este era vermelho. Seu cavaleiro recebeu poder para tirar a paz da terra e fazer que os homens se matassem uns aos outros. E lhe foi dada uma grande espada” – Livro do Apocalipse. 6, 3-4.

recomendado

Darksiders: Warmastered Edition traz aos jogadores de PlayStation 4 a oportunidade de vivenciar um dos melhores jogos da geração passada. Guerra, o segundo porém mais honrado dentre os Cavaleiros, se vê acusado de iniciar prematuramente o apocalipse, e com isso determinar o fim do reino dos homens. Firme no propósito de provar sua inocência, e trazer à justiça o culpado, ele volta ao Reino dos Homens, devastado e destruído, em busca do verdadeiro culpado.

Um jogo cheio de reviravoltas, que mescla uma jogabilidade brutal ao estilo God of War-Devil May Cry, com a tendência de exploração de cenários de Metroid/Castlevania, e uma história ainda não explorada no mundo dos games. Tendo sido muito bem recebido em seu lançamento, e ainda uma vez que Darksiders II Deathinitive Edition já havia sido anteriormente, uma remasterização deste jogo era quase certa.

Um guerreiro com a honra manchada. Justa é sua fúria. Infinita sua sede de justiça. Que seus inimigos lutem por suas almas, pois seus corpos já estão condenados.

FOME

No jogo, Guerra é retratado como o primeiro dos cavaleiros do apocalipse. No entanto, historicamente, ele é o segundo a ser invocado, quando os sete selos são quebrados. A história do jogo é baseada fortemente no apocalipse bíblico, apesar de construir seu próprio universo.

Guerra, em toda sua glória
Guerra, em toda sua glória

O Poder Primordial, ou Criador, criou os reinos do Céu e Inferno, e estes estavam em guerra por eras sem fim. Para trazer o equilíbrio entre eles, criou também o Conselho das Chamas. O Conselho serve  como mediador entre os reinos, pois ninguém ousa questionar sua autoridade. Para lidar com tais transgressões, o conselho criou também seus executores: os quatro Cavaleiros. E forjou um pacto entre os dois reinos.

O reino dos homens surgiu posteriormente. Prevendo seu papel fundamental no futuro, o Conselho forjou um pacto, e criou os sete selos, para serem quebrados quando o Reino dos Homens estivesse pronto para a guerra vindoura. Mas algo saiu errado. Os selos não foram quebrados, mas o dia do julgamento foi invocado. Guerra acabou culpado por iniciar prematuramente o fim dos dias e, com isso, a extinção da humanidade.

Determinado a trazer à luz da justiça o verdadeiro culpado, Guerra sai em busca dos culpados. E não irá parar até encontrar os responsáveis pelo que aconteceu.

Independente dos obstáculos, Guerra se mantém resoluto em seu propósito.
Independente dos obstáculos, Guerra se mantém resoluto em seu propósito.

O que torna esse enredo tão cativante não é apenas sua adaptação. Toda história, toda mitologia por trás dela, está muito bem estruturada. Há um motivo para as batalhas que acontecem. Os inimigos possuem suas motivações bem estabelecidas. Os aliados não são amigáveis, e apenas ajudam Guerra em sua busca por seus próprios objetivos. Há ainda o pano de fundo das maquinações estratégicas para ganhos próprios, só revelados posteriormente.

Não chega a ser algo tão elaborado, e por vezes apresenta diversas situações clichês, mas ainda assim é atrativa o suficiente para prender o jogador até o fim. E estes são recompensados com um final digno de um grande jogo (mesmo que este não seja definitivo – talvez reste aí o seu diferencial).

GUERRA

Uma história elaborada não se sustenta por si só. E dessa forma, uma jogabilidade bem desenvolta é necessária. Neste quesito, Darksiders se sagra, ainda, como um jogo com gameplay grandioso.

Uma das diferenças, que os jogadores da geração passada já devem conhecer, mas os mais recentes perceberão neste jogo, e a disparidade entre Guerra e seu irmão, Morte, protagonista do segundo jogo. Morte é ágil e gracioso, preferindo uma movimentação sorrateira e mortes rápidas. Guerra não.

Guerra é força bruta. Isso se observa até mesmo no caminhar do personagem. Nas suas vestimenta, armas que carrega, estilo de luta e interação com o ambiente e personagens. Suas execuções também deixam bem claro que delicadeza não e seu forte.

O que fez o jogo ser elogiado em seu lançamento, e não mudou em sua remasterização, foi a capacidade da Vigil Games em apoiar, de forma equilibrada, toda jogabilidade em dois pilares específicos.

1 – Combate

A medida que Guerra avança no jogo, ele tem acesso a novas armas primárias e secundárias. Cada arma, por sua vez, possui sua própria gama de golpes. Estes podem ser combinados entre elas, o que permite ao jogador elaborar estratégias baseadas em cada inimigo.

As mecânicas de combate incluem não somente os ataques, mas o uso inteligente da esquiva.
As mecânicas de combate incluem não somente os ataques, mas o uso inteligente da esquiva.

Após causar dano suficiente, Guerra pode realizar uma execução estilosa, como Kratos em God of War. Cada inimigo possui uma animação diferente, então não se torna tedioso realizar tal golpe. Alguns são, de fato, bastante violentos, e isso é divertido. Aliás, apesar de não estar à altura do jogo do deus da guerra, Darksiders tem seu charme em oferecer uma boa dose de brutalidade.

Os inimigos, por sua vez, são variados. Não tanto quanto poderiam ser, mas vem em um bom número. Oferecem um desafio a altura, especialmente na dificuldade mais alta. Nada que se equipare a Devil May Cry. Dessa forma, bem mais acessível a quem goste de jogos ao estilo hack ‘n slash.

O nível de violência do jogo também não deixa a desejar.
O nível de violência do jogo também não deixa a desejar.

Já a dificuldade apresenta um problema. Ela é inconsistente. Inimigos do início do jogo apresentam-se mais trabalhosos que os do quase-fim. Especialmente o primeiro chefe tende a ser bastante trabalhoso para os iniciantes, o que já não acontece no último. E mesmo o fato de que Guerra fica mais forte com o passar do jogo não deixa passar despercebido que a dificuldade não é gradativa.

Ah, e os chefes possuem padrões de ataques muito previsíveis. Isso os torna meros inimigos mais fortes. Mas dentre eles existem batalhas memoráveis, como contra o terceiro chefe, nas areias do deserto, cavalgando Fúria, seu cavalo. Algo que certamente será revivido por diversos jogadores. Quando derrotado… Bom, é melhor que o jogador veja por si só.

Sim, ela vai te dar bastante trabalho.
Sim, ela vai te dar bastante trabalho.

2 – Exploração

Guerra foi destituído de seus poderes, e deve percorrer o mundo realizando diversas missões, enquanto busca o culpado por iniciar o Armagedom prematuramente. Para isso, inúmeros artefatos, espalhados pelo mundo, podem ser coletados. Mas como determinadas áreas estão inacessíveis de início, o jogador precisará buscar meios para adentra-las.

Essa exploração, ao estilo Metroid, não é muito vista nos jogos atuais. Mas os jogadores mais antigos lembrar-se-ão de como era gratificante descobrir que uma determinada área poderia ser acessada a partir do momento em que uma melhoria específica fosse encontrada. Darksiders traz de volta esse sentimento.

O level design incita a busca por áreas escondidas.
O level design incita a busca por áreas escondidas.

Os quebra-cabeças também são elaborados. Não ao ponto de fazer o jogador desistir, mas de faze-lo pensar um pouco. As sessões de plataforma não são tão precisas, o que dá certa margem a erro. E o level design das áreas (visto que pode-se considerar todo jogo como um grande mundo aberto) foi bem feito. Ao contrário do segundo jogo, que possui áreas imensas sem qualquer sentido, Warmastered Edition traz áreas menores, mas com mais propósito à proposta do game.

Ao ganhar acesso ao seu cavalo, Ruína, Guerra pode percorrer distâncias em um espaço menor de tempo, o que ajuda na exploração de determinadas áreas. E torna a jornada menos tediosa.

E o número de colecionáveis também ajuda bastante, visto que não são poucos, mas existem itens que, após coletados, mostram sua localização. Ou seja: se o jogador quiser um estilo de jogo mais hardcore, ele pode segui-lo. Caso não, também terá a ajuda necessária para completar 100% do game.

PESTE

De fato, Darksiders: Warmastered Edition é um jogo fenomenal. No entanto, assim como outros jogos remasterizados para a geração atual (com exceção de raríssimas exceções – Uncharted, alguém?), possui falhas que não deveriam existir. Especialmente porque, como pode ser visto neste artigo, o jogo ainda precisou ser adiado para ser “polido” pela empresa.

O primeiro deles pode ser observado logo na primeira parte, ainda no início do jogo. Há uma falta de sincronia severa entre as vozes do jogo e a movimentação facial dos personagens. Não é algo sutil. São atrasos que chegam a superar dois segundos. Isso pode parecer pouco, mas em uma cutscene, o jogador para apenas para prestar atenção aos diálogos da história. Isso irrita tremendamente.

Abaixo segue um vídeo, que exemplifica bastante o que aqui está descrito.

Além desse problema, outro que se observa, igualmente dissonante, é o fato de determinadas cutscenes não se completarem. Imagine a cena acima. Na metade de sua execução, o jogo retorna ao gameplay, e o jogador ganha novamente o controle sobre Guerra. Mas as vozes das cenas ainda continuam sendo executadas.

Mas o pior dos problemas constatados ocorre no salvamento do jogo. Diversas vezes, durante a elaboração deste artigo, o jogo foi salvo após 30, 40 minutos e, inexplicavelmente, o arquivo de salvamento se reverteu ao último jogo salvo. Pior: até mesmo o arquivo de salvamento automático é gravado na área respectiva, como se o jogador nela tivesse acabado de adentrar.

Para exemplificar a situação acima: o jogador acaba de passar a área inicial do jogo, e avança cerca de 1 hora. Depois desse período, resolve salvar seu progresso. Sem qualquer motivo aparente, o progresso do jogo volta àquela primeira área, inclusive o arquivo de salvamento automático. Perder minutos, horas, de progresso, faz com que jogadores se questionem se realmente vale a pena continuar jogando algo que parece não ter sido apropriadamente testado.

Felizmente, na data de ontem (01/12) a THQNordic liberou o patch de correções 1.01, que traz algumas melhorias, além de corrigir diversas falhas na jogabilidade, inclusive de um determinado troféu que insistia em não ser desbloqueado, mesmo cumprindo-se todas as exigências.

MORTE

É interessante ver como uma empresa se empenha em resolver as questões que aparecem em seu jogo de forma rápida. Mas é mais interessante ainda perceber o empenho em trazer um jogo da geração passada tão belamente tratado para os dias atuais. Se Darksiders fosse lançado hoje, como mostrado, se passaria mesmo como um jogo next-gen.

Os vídeos mostrados na internet não fazem jus à realidade desta remasterização. O autor deste artigo, no entanto, possui ambas as cópias, e pôde compara-las em tempo real. As melhorias gráficas trazidas são mais que substanciais. Houve um aumento gritante nas texturas dos personagens e cenários. O mundo do jogo, agora, apresenta-se verdadeiramente como um cenário pós-apocalíptico (o trocadilho é intencional).

As estruturas destruídas. Os corpos, veículos, formações demoníacas. Tudo traduz-se em morte. Até mesmo áreas mais verdes, tendo em vista que transcorreu um século desde o exílio de Guerra, nascem em meio ao mórbido. E o suporte ao PS4 Pro apenas melhora ainda mais o que ficou, de fato, excelente.

A taxa constante a 60 quadros por segundo dá fluidez ao jogo. As pancadas das armas e golpes dos inimigos estão vívidos e realistas. Os efeitos de som estão como antes. O que, de forma alguma, pode se considerar um problema.

A atuação dos personagens vista nesse jogo é algo primoroso. Mark Hamill se destaca particularmente como O Guardião
A atuação dos personagens vista nesse jogo é algo primoroso. Mark Hamill se destaca particularmente como O Guardião

Ademais, o jogo conta, agora, com legendas em português brasileiro. Uma excelente adição ao jogo original de 2010. O enredo, para aqueles que não dominam a língua inglesa, fica mais compreensível. E muitos podem argumentar que o jogo poderia ter sido dublado.

Mas isso seria um erro fatal. O trabalho da dublagem original é proeminente. As vozes se casam perfeitamente com as características dos personagens. Por exemplo: Guerra é um ser que jamais perde a calma. A entonação de sua voz nunca muda. Ele está sempre austero e determinado. E nunca perde seu foco.

O Guardião é interpretado por ninguém menos que Mark “O Coringa” Hamill. Sua atuação como a criatura irritante e ameaçadora a serviço do Conselho das Chamas é impecável. Vulgrim realmente parece um ser cujo único propósito é levar vantagem em toda barganha que realiza. Os gritos dos monstros e outras vozes de outros personagens soa realista e de perfeito encaixe. De fato, esta é uma área do jogo que foi primorosamente executada.

A REVELAÇÃO

Warmastered Edition possui seus defeitos. Isso é um fato. Mas isso não tira a primazia do jogo. Especialmente porque, além de tudo, o jogo é oferecido a um preço bem abaixo do que outros remasters da antiga geração (atualmente, R$ 70,00).

O preço acaba se tornando um atrativo a mais. Mas este não é, de forma alguma, o principal. O jogo é excelente. Sua jogabilidade é refinada, mas brutal. Possui um sistema de exploração de cenários digno de Zelda (obviamente, não tão cativante). Os personagens são carismáticos e marcantes. Tudo no jogo merece um destaque.

Quanto maior e mais feio, mais gosto de matar...
Quanto maior e mais feio, mais gostoso de matar…

Importa ressaltar que, no fim, o jogador irá perceber que a mistura “God of War + Zelda + Apocalipse” deu certo. E que o fim do mundo pode, de todas as formas, ter sua própria maestria.

E verão o seu rosto, e nas suas testas estará o seu nome..

E seu nome era Guerra…

Hugo Bastos
Hugo Bastos
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Jogando agora: Nada no momento.
Hugo Bastos e revisor do Meu PS4, apreciador de uma boa comida, e de platinas difíceis. E viciado em Rogue Legacy, OlliOlli2, Dead Cells, e não dispensa uma boa noite de jogatina.