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Ghost Blade HD: É indie, mas…

Visual e trilha sonora impressionam, mas a brevidade do jogo o torna menos atrativo aos jogadores.

por Hugo Bastos
Ghost Blade HD: É indie, mas...

Ghost Blade HD é a versão remasterizada do game, originalmente lançado para Dreamcast, em (acreditem!) 17 de setembro de 2015. Como uma volta ao passado, ele traz elementos clássicos, que consagraram os jogos do gênero de nave (os famosos shooters) em sua época.

Possui uma história que tenta ser intrincada, mas serve somente como pano de fundo para o “inferno de balas” que se abate sobre o jogador. Este faz parte da Força de Defesa da Terra, que envia seus melhores para ajudar uma colônia em Marte, subjugada por uma inteligência artificial corrompida.

De certa forma, é certo que o título se esforça para trazer o que consagrou os jogos “shoot’em up” no passado. Dificuldade insana, mas acessível; foco na conquista da maior pontuação; até mesmo a sensação nostálgica da visão isométrica “top-down” que tanto fez sucesso em jogos como a série Raiden ou 19XX, da Capcom.

No entanto, erros de design, repetitividade e trilha sonora sem inspiração acabam por minar parte da diversão.

  • Jogo: Ghost Blade HD
  • Desenvolvido por: Hucast Games
  • Distribuido por: 2Dream
  • Onde Encontrar: Aqui

Ghost Blade – A Espada Fantasma

A história do jogo até tenta ser interessante. 10.000 anos atrás, uma inteligência artificial chamada Shira, criada para proteger os habitantes de Marte, corrompeu-se. Uma vez que eles não conseguiram lidar com isso por si só, a Força de Defesa da Terra interveio e destruiu o inimigo. Mas não contavam que ela tinha uma cópia de segurança.

O backup dominou uma estação espacial abandonada, nos limites do sistema solar. Agora, a EDF (no original) envia seus melhores pilotos para derrotar a agora “Evil Shira”, antes que ela complete sua nova força de ataque e lance uma nova ofensiva contra a Terra e suas colônias.

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A inteligência artificial Shira se rebelou, e criou para si um império. Mas quem se importa quando é tão bom atirar em tudo que vê? Fonte: Ghost Blade HD (Captura de Tela)

Apesar de parecer instigante, não se engane. Este é apenas um pano de fundo. O verdadeiro sentido do jogo, do momento em que o jogador o inicia, é a conquista pela mais alta pontuação. Pura e simples. Exatamente como eram os infames shmups de anos atrás.

Até porque a história não se desenvolve no jogo. Do início ao fim, não há qualquer menção do enredo. Não há diálogos, cutscenes, nada que faça alusão ao que acontece no universo do game. O objetivo é simples. Ghost Blade HD cai naquela classe de jogos “fácil de aprender, difícil de dominar”.

Difícil? Não, imagina…

Não se engane, jogador. Este não é um jogo para todos. Na melhor definição, Ghost Blade HD é um jogo que “na dificuldade fácil, parece que está na difícil. E na difícil, parece que está na impossível“. Mas isso não é ruim. Pelo contrário, traz o senso de desafio e conquista tão buscado por diversos jogadores hoje em dia.

Três são as naves à disposição. Suas armas são distintas, o que permite a adoção de estratégias diferentes. Mas fora a melhoria da arma principal dentro do jogo, por meio de estrelas (que aparece ao se destruir inimigos), não existe qualquer outro elemento no jogo.

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Em alguns momentos, o jogador irá se desesperar com o nível elevado de dificuldade imposta. Fonte: Ghost Blade HD (Captura de Tela)

Já os inimigos se apresentam nas mais variadas formas. Tanques, naves pequenas médias e grandes, chefes colossais. Cada qual com seu padrão de ataque específico. Isso torna o jogo mais estratégico, pois será necessário saber quando desviar e quando atacar diretamente os inimigos. Ou mesmo usar as bombas disponíveis.

Para tornar as coisas um tanto mais acessíveis no início, existem três níveis de dificuldade disponíveis. Na mais fácil, bombas são usadas automaticamente caso o jogador esteja para ser atingido. Assim, a entrada de novos jogadores fica menos complicada.

Jogabilidade afiada como uma navalha

Para um jogo do gênero, o qual é necessário desviar de zilhões de projéteis, é necessário um controle preciso e uma jogabilidade concisa. Desviar dos tiros, recolher recompensas, destruir inimigos, acumular pontos. Tais tarefas, complementares entre si, mostram que os controles do jogo estão perfeitos.

O controle dos personagens é feito de forma fluida. A mudança de armas (do tiro normal para o concentrado) é quase natural. À medida que avança, o jogador aprende novas técnicas, fica melhor, e como consequência, morre menos. O que acontece com frequência, diga-se de passagem.

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Para se dar bem no jogo, a jogabilidade se torna sua aliada. Fonte: Ghost Blade HD (Captura de Tela)

Não há input lag. Pode-se dizer até mesmo que a morte é consequência natural de erro do jogador. E, apesar de o jogo não facilitar em momento algum, a dificuldade extrema não chega a ser injusta. Apenas menos acessível para a grande maioria dos jogadores. Para os mais novatos, existe ainda a opção Training Mode.

Há ainda a opção de jogar com um amigo em modo cooperativo local. Infelizmente, não existe uma opção online, o que daria maior sobrevida ao jogo.

E para aqueles que gostam de platinas desafiadoras (falando nisso, que tipo de caçador de troféus é você? Não sabe? Veja aqui), este jogo é um prato cheio. Uma lista com troféus extremamente complicados, como raramente se observa em jogos lançados para PlayStation 4.

Alcançar 1 bilhão de pontos no modo Score Attack, terminar o jogo com apenas um crédito e sobreviver 9 minutos sem errar uma única nave estão entre eles.

O pecado da repetição

Sobrevida é algo que o jogo realmente necessitava. Extremamente curto, com apenas cinco fases e nenhuma razão para manter o jogador ativo além da busca por maiores pontos no modo Score Attack, o jogo peca em oferecer tão pouco.

Os chefes são únicos, mas se comportam de forma parecida. Cada um deles se move como se controlado por fios, como uma marionete. Não apenas isso. Sua música-tema também é a mesma para todos. Não há uma entrada épica, uma mudança de tela, algo que empolgue o jogador. É simplesmente “chegue no chefe-mate o chefe-passe a fase”.

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Fora jogar novamente as fases, ou treinar contra chefes, não há muito mais o que fazer no jogo. Fonte: Ghost Blade HD (Captura de Tela)

Fora do modo principal, o jogo oferece o Training Mode, Score Attack e… somente isso. Nada mais. Não há naves extras a desbloquear, modo desafio (como visto em Söldner X-2), novas habilidades ou fases extras. Ou mesmo novas armas para as naves já existentes, ou novos pilotos.

E mesmo nos modos extras, as fases são recicladas daquelas do jogo principal. Para aqueles que buscam variedade, este jogo é um problema. No entanto, ao se analisar todo o escopo, esperar por um jogo maior (mais fases, por exemplo) sem que haja nada a fazer além de termina-lo seria tão ruim quanto.

Audiovisual de encher os olhos

Se Ghost Blade HD peca em não oferecer uma trilha sonora para os chefes que seja marcante, o mesmo não se pode dizer do restante do jogo. Com a opção dois modos diferentes, a trilha sonora das fases é algo memorável. De responsabilidade de Raphael Dyll (Söldner X e X-2, Rainbow Skies), já na primeira fase é possível sentir o impacto.

Ela acompanha a ação frenética que se desenrola à vista do jogador. Não cansa e não é maçante, ou repetitiva. Se encaixa perfeitamente com os estágios. Uma das melhores coisas que o jogo tem a oferecer. E, claro, traz aquela sensação maravilhosa de nostalgia que permeia os jogadores mais antigos.

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A sensação de nostalgia que o jogo proporciona é maravilhosa. Fonte: Ghost Blade HD (Captura de Tela)

Os gráficos também não deixam a desejar. São bem feitos, mas guardam aquela sensação old school, especialmente de jogos como Raiden. A movimentação dos cenários é fluida, e os inimigos são relativamente bem detalhados.

A chuva de balas, no entanto, dá um show a parte. Por ser um expoente do gênero bullet hell, onde a tela necessariamente precisa se encher de balas, Ghost Blade HD não decepciona. A tela se torna, de fato, um “inferno de tiros”. E não há qualquer queda na taxa de quadros por conta de tantos elementos presentes de uma vez.

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Quando você desviar de um tiro, muito provavelmente haverá outro esperando por você. Fonte: Ghost Blade HD (Captura de Tela)

Percebe-se que não se trata de um simples port para um console da nova geração. O trabalho foi tão bem feito que a impressão é que o trabalho gráfico foi feito do zero.

Rachaduras na fuselagem

Apesar de ter seus méritos, Ghost Blade HD acaba pecando em diversos pontos. Os gráficos são, de fato, excelentes. Mas a decisão do level design, de manter a área jogável limitada ao centro, foi grotesca, para dizer o mínimo. Tal perspectiva limita a movimentação e prejudica imensamente a diversão que o jogo proporcional.

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Um jogo tão promissor, prejudicado por uma decisão tão errada, como limitar a área de jogo. Fonte: Ghost Blade HD (Captura de Tela)

Como dito acima, a falta de conteúdo também acaba por ser um sério problema. Para aqueles que tem por objetivo caçar troféus, ou os que buscam sempre a melhor pontuação, o jogo ainda pode se estender por mais algumas horas de gameplay. Mas nada que se justifique após algum tempo.

Mesmo os diferentes modos de jogo se apresentam como reciclagens do modo principal. Isso afasta ainda mais os jogadores casuais. Esta repetição também é vista nos chefes do jogos. Cada um tem um visual diferente, mas no fim, aparentam sempre ser “mais do mesmo”.

E, por fim, a história não se desenvolve. Não há sentido em um enredo. Com gráficos tão bons, a falta de cutscenes ou diálogos acaba sendo um pecado sem perdão. Ao menos, isso esconde a falta de localização do jogo ao nosso idioma. Um erro que acaba sendo atenuado pelos fatores já citados.

Um brilho ofuscado

Ghost Blade HD é uma ode ao passado. Isso é inegável. Possui diversas qualidades, e traz uma nostalgia grande àqueles que viveram na época de ouro dos jogos de navel. Lembrar-se dos grandes expoentes do gênero (Sonic Wings, Radiant Silvergun, Ikaruga, entre tantos outros) não será problema.

Infelizmente, os problemas que se apresentam mancham seu brilhantismo. Falta conteúdo, sobra repetição. E isso termina por afastar muitos jogadores.

Para aqueles que se propuserem a ignorar estes aspectos, contudo, há a busca pela maior pontuação. E se esse é seu perfil, caro jogador, você tem um excelente jogo em mãos.

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No final, somente a pontuação mais alta importa. Guarde suas bombas. Elas fazem uma enorme diferença. Fonte: Ghost Blade HD (Captura de Tela)

VEREDITO: É Indie Mas… (Não) É (Tão) Legal

O que é bom:

  • Dificuldade insana;
  • Trabalho audiovisual excelente;
  • Ótima sensação de nostalgia;
  • Jogabilidade aprimorada.

O que não é bom:

  • Jogo extremamente repetitivo;
  • Level design nada inspirado;
  • Falta extrema de conteúdo;
  • Chefes genéricos.

Para quem jogou e gostou de:

  • Série Touhou;
  • Ikaruga
  • Série Raiden;
  • Radiant Silvergun
  • Série 19XX;
  • Série Sonic Wings.
Hugo Bastos
Hugo Bastos
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Jogando agora: Nada no momento.
Hugo Bastos e revisor do Meu PS4, apreciador de uma boa comida, e de platinas difíceis. E viciado em Rogue Legacy, OlliOlli2, Dead Cells, e não dispensa uma boa noite de jogatina.