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Victor Vran: Overkill Edition: Vale a Pena?

Uma trilha de corpos e mistério permeiam este excelente jogo.

por Hugo Bastos
Victor Vran: Overkill Edition: Vale a Pena?

Victor Vran: Overkill Edition é facilmente um dos jogos mais fascinantes nos quais este autor já pôs suas mãos. O jogo segue o estilo “diablesco” de ser. Um RPG de ação com a jogabilidade ao estilo hack ‘n slash. Sua ambientação já difere dos demais exemplos no mercado, preferindo algo mais à era vitoriana, ao estilo “Van Helsing”.

Victor Vran é um caçador de demônios, que precisa ir à cidade de Zagoravia, atender ao chamado da rainha Katarina, e buscar informações sobre seu amigo que está desaparecido. Em seu caminho, precisa escolher o que lhe é mais importante: ajudar aos cidadãos locais, ou seguir seu próprio caminho. Como o lobo solitário que sempre foi.

Com jogabilidade diferenciada, mecânicas não vistas comumente em outros jogos deste gênero, e uma trilha sonora imersiva e cativante, o game se destaca como uma grata e intrigante surpresa. E para melhorar ainda mais, esta versão Overkill vem todos os conteúdos adicionais já lançados para outras plataformas.

Afie sua espada, caçador, pois a jornada vai começar.

Quase um Belmont

Um ano atrás, a rainha convocou diversos caçadores para ajudá-la a livrar seu povo da maldição dos demônios. Apesar de muitos terem respondido, nenhum retornou. Sombras cobrem a terra, que agora é considerada amaldiçoada. Victor, apesar de receber o chamado, escolheu não se envolver.

Até que seu amigo, Adrian, não retornou de sua jornada à cidade tomada. Companheiros de armas, Adrian conhece os segredos mais ocultos de Victor – ele fez um pacto anos antes, e controla poderes demoníacos. Determinado a descobrir o que aconteceu, ele, então, parte para Zagoravia.

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Bons amigos são difíceis de encontrar. Conserve os que você tem. Fonte: Captura de Tela.

A história do jogo, apesar de parecer clichê (vá a tal lugar, liberte-o de uma ameaça sobrenatural, sobreviva), tem seus méritos. É interessante e instigante. O jogador se sente compelido a descobrir mais sobre o passado de Victor, da própria Zagoravia, e daqueles que fazem parte da trama.

Para isso, diálogos e missões paralelas estão disponíveis aos montes. Genuinamente, o jogo possui conteúdo de enredo suficiente para muitas horas de diversão. Apesar de algumas reviravoltas previsíveis e situações nada originais.

Ainda assim, a adição de uma entidade, que funciona como espécie de narrador, e provoca Victor de uma maneira ou de outra, foi algo completamente desnecessário. Ela faz com que a narrativa perca um pouco de sua seriedade, transforma o silêncio opressor e trilha sonora em momentos irritantes, e ganha a antipatia gratuita de quem quer que a ouça.

Mundos Imortais Através das Eras!

Overkill Edition não é um nome escolhido ao acaso. O título traz todo conteúdo já disponível em sua versão para PC – esta, lançada em 2015. Além das melhorias gráficas, e diversos outros itens de jogador, duas expansões compõem o pacote. Mundos Fendidos e Motörhead – Através das Eras.

A primeira conta uma história separada, em um mundo criado em um plano existencial diferente. Diversos mundos colidiram, e o resultado criou quatro novas masmorras, que se modificam diariamente. E uma masmorra infinita, chamada Fenda (Fracture). Novos itens de equipamento e desafios para aqueles que já terminaram o jogo compõe este pacote.

Mas o melhor extra é seu segundo conteúdo adicional. O seu nome não é apenas sugestivo. Através das Eras realmente traz cenários, inimigos, e história baseados na mitologia das músicas da consagrada banda de rock. Que, infelizmente, acabou-se em 2015, após a trágica morte de seu líder, Lemmy Kilmister.

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Lemmy Kilmister não está entre nós. Mas seu legado vive em Motörhead – Através das Eras. Fonte: Captura de Tela.

Nesta expansão, ele interpreta um salvador, que livrou o povo do governo de um “Füher” tirano. De fato, a história possui diversas similaridades com os regimes totalitaristas do meio do século passado. Mas ela se destaca pela sua ambientação, conteúdo e narrativa. Esta, extremamente cativante e divertida.

A trilha sonora é formada por canções da banda. E sua execução é majestosa, e torna o jogo ainda mais viciante. Os monstros são baseados também em trechos de determinadas músicas. É possível encontrar posters e decorações inspiradas em lendas do rock, e na própria banda. E o melhor: sem aquela voz irritante da campanha principal.

Vida longa ao rock!

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Até os monstros são influenciados pelo gênero musical. Fonte: Captura de Tela.

Peças em um tabuleiro

O jogo (todo ele) não é tão bom apenas pelo seu conteúdo adicional. Victor Vran consegue trazer um sopro de vida nova ao gênero.

O título da Haemimont Games adicionou novas mecânicas em sua jogabilidade, que acabam por fazer o diferencial. Agora, o jogador pode saltar e movimentar a câmera livremente, livrando-se das limitações na visualização de cenários. Tais mecânicas ainda são necessárias para se encontrar segredos, muito bem “escondidos” nos cenários.

O básico “esquivar-se – atirar – correr – recolher espólios – próxima área” continua vigente (clássicos não podem morrer). A quantidade de itens diferentes a ser coletada, novas armas, amuletos e cartas do destino, agradam até os mais ávidos por jogos cheios de colecionáveis. O sistema de espólios não é generoso, mas não chega a ser sovina.

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O nível de destruição de itens dos cenários é satisfatório. Procure por tudo que pode ser quebrado. Fonte: Captura de Tela.

Isto posto, você, caro jogador, já deve se perguntar qual classe vai escolher para enfrentar as ruas infestadas pelo mal de Zagoravia. A resposta é: nenhuma. Talvez uma das melhores decisões dos desenvolvedores foi permitir ao jogador personalizar as habilidades e estilo de jogo de Victor a seu bel-prazer.

Não existem classes específicas no jogo. Mas bruxarias, armas e habilidades diferentes certamente farão com que nenhum gameplay seja igual ao outro. Jogar cooperativamente, com até quatro outros jogadores (online ou local), enfatiza ainda mais estas diferenças.

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Você escolhe como deseja caçar demônios. Seja na força bruta ou na base da magia, as escolhas são sempre suas. Fonte: Captura de Tela.

Um novo dia para matar…

Mas de nada adianta um jogo com gameplay refinado se não houver onde executa-lo. O combate de Victor Vran é tal qual os jogos de mais renome. Encontre monstros e extermine-os com suas habilidades, armas e qualquer outra coisa à sua disposição. Os controles respondem bem. Especialmente quando há muitos inimigos na tela.

No geral, o jogo se sobressai durante os combates. O level design não atrapalha os confrontos. Os inimigos foram concebidos para serem desafiadores, dependendo de seu nível de dificuldade. Em alguns momentos, os controles podem não responder como devem, ou ocorrer um ou outro lag. Mas nada que atrapalhe a diversão.

No que tange à dificuldade, é interessante comentar ainda que o jogo já permite a escolha de níveis mais elevados de desafio logo na primeira vez. O que não é recomendado para aqueles que desconhecem o estilo de jogo. Nas dificuldades mais elevadas, bruxarias estão sempre ativas, não podem ser desativadas, e impactam fortemente o gameplay como um todo.

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Dreno de energia, inimigos mais fortes, oponentes que se transformam em versões anabolizadas de sua classe. Tudo isso acontece, de uma vez, nas dificuldades mais altas. Fonte: Captura de Tela.

Assim, aqueles jogadores que buscam por um incentivo a mais, procurando sempre superar seus limites, podem ficar intimidados com o quanto o jogo se torna punitivo. Mas as recompensas são igualmente altas. Acaba, no fim, sendo uma questão de escolha e balanceamento “risco x recompensa”.

Acho que já vi isso em algum lugar…

A ambientação de Victor Vran é um de seus melhores pontos. Os ambientes denotam ao caos e desordem. Corpos espalhados pelos cenários. Jardins infestados de monstros. Uma cidade onde jaz um silêncio opressor. Junte isso à excelente trilha sonora, e tem-se um belo exemplo de como os cenários devem ser criados. Mesmo que tudo seja muito familiar.

Estranhamente, o título não apresenta muitas surpresas neste quesito. Os gráficos não decepcionam, mas não “reinventam a roda”. Estão ao nível do que se pode esperar de uma produção independente extremamente competente. Mas o jogador sentirá que falta algo. Talvez uma melhoria nos efeitos de luz e sombra, ou gráficos mais polidos.

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Victor Vran possui uma excelente história a ser contada. A ambientação dela soa, no entanto, comum demais. Fonte: Captura de Tela.

O jogo possui localização de legendas e menus para o nosso idioma. O que ajuda deveras no entendimento da teia de intrigas que se forma no jogo. As vozes são outro ponto forte. Os diálogos são bem elaborados, e os personagens possuem personalidade.

Exceto, claro, a entidade que invade a mente de Victor logo no começo do jogo, e o segue por boa parte dele. Completamente desnecessária e irritante, seus comentários quebram, por diversas vezes, o clima de suspensa e apreensão que o jogo se esforça tanto para incutir ao jogador. Definitivamente, algo que mancha sua imagem.

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Victor Vran encontrará muitos personagens por seu caminho. Cada um com suas próprias motivações. Fonte: Captura de Tela.

E mais uma vez, a expansão Motörhead se sobressai. Como já dito, a ambientação criada pela junção “cenários + trilha sonora” é algo poucas vezes observado no mundo dos games. Comparativamente falando, é um Brütal Legends (que também conta com a participação de Lenny) sem o sistema de combates, ao estilo RTS.

Victor Vran Helsing – O Caçador de Demônios

Os jogos independentes tem, com o passar do tempo, conquistado cada vez mais espaço na indústria, e nas estantes (virtuais ou físicas) dos jogadores. Exemplos como Shiness – The Lightning Kingdom, Outlast 2 e, mais recentemente, este título, demonstram o quão determinadas e obstinadas as desenvolvedoras indies estão sendo em apresentar jogos com cada vez mais destaque.

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Victor Vran se mostra um jogo excepcional naquilo que se propõe. Inimigos diversos, jogabilidade fluida, trilha sonora competente e gráficos agradáveis. Personagens marcantes e enredo nada original, mas imersivo. Todas essas qualidades podem ser encontradas nesta versão Overkill.

Os caçadores de troféus ainda terão um incentivo a mais para vasculhar cada canto deste jogo. Cada uma das expansões possui uma lista própria. E a descrição dos troféus do jogo dão a entender que muitas e muitas horas serão necessárias para a conquista do tão cobiçado troféu de platina.

Se você, caro jogador, gosta de jogos desse gênero, Victor Vran: Overkill Edition é uma pedida obrigatória em seu repertório. Se não, este é um daqueles produtos que podem, certamente, convence-lo do contrário.

Hugo Bastos
Hugo Bastos
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Jogando agora: Nada no momento.
Hugo Bastos e revisor do Meu PS4, apreciador de uma boa comida, e de platinas difíceis. E viciado em Rogue Legacy, OlliOlli2, Dead Cells, e não dispensa uma boa noite de jogatina.