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We Happy Few: Vale a Pena?

Enredo inteligente e divertido se perde em problemas técnicos.

por Thiago Barros
We Happy Few: Vale a Pena?

A diferença entre o mundo quando está sob o efeito de alegria, a droga fictícia do jogo, e o que ele realmente é pode ser uma forma perfeita de analisar o We Happy Few. Desde que o jogo foi anunciado em 2015, ele gerou uma grande expectativa, porque a sua premissa era interessante e ele prometia um gameplay inovador e muito divertido.

Porém, chegou agosto de 2018 e agora que tivemos a experiência completa com o novo jogo da Compulsion Games, infelizmente ele não foi tudo isso. Até teve momentos legais, sua história, realmente, cativa e prende a atenção, mas no geral ele decepciona. Os seus problemas técnicos e a duração da campanha (cerca de 40 horas) incomodam. Veja também nossa análise no YouTube.

Alegria, alegria!

O enredo de We Happy Few é confuso. Depois de jogar muitas horas, você começará a juntar as peças, porém ele começa de forma meio atabalhoada. Com destaque para um momento em que você pode “zerar” o game logo na primeira missão, com só um toque no botão. Se fizer a escolha “errada”, vai direto pra tela de créditos.

Parece loucura, mas é até engraçado – e faz sentido com a história do jogo. Quando se utiliza a droga Alegria, ingerindo uma de suas pílulas, você esquece de tudo. E como o enredo, no Ato 1 (são 3), baseia-se em seu personagem, Arthur, lembrar o que houve com seu irmão, ao se drogar você não conseguir fazê-lo. Então, game over. Veja abaixo como é.

Mas voltando ao plot de We Happy Few, ele se passa nos anos 60, mas em um mundo onde os nazistas ganharam a II Guerra Mundial. O cenário para a história é a cidade de Wellington Wells, e você vai jogar com três personagens: Arthur, Sally e Ollie, cada um com suas características e mecânicas – o que é um ponto bem legal.

Inclusive, é uma pena não sabermos disso desde o começo e o jogo ser dividido pelos Atos. Caso fosse possível alternar entre as campanhas, como em GTA V, talvez fosse menos maçante e repetitivo fazer cada uma delas – especialmente a primeira, que é a mais longa, tanto em missões principais como em sidequests.

A big picture da coisa é que os alemães invadiram Wellington Wells, porém os cidadãos de lá conseguiram expulsá-los; só que para isso fizeram algo terrível. Para não lembrar de mais nada, eles desenvolveram uma droga, a Alegria. São cápsulas que fazem você ver o mundo colorido e esquecer as memórias ruins.

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Flashbacks são grande parte do jogo (Foto: Reprodução)

Quem se droga com elas vira um dos Wellies, e Arthur era um deles. Porém, há aqueles que não querem mais ingerir a substância e ficam renegados, chamados de “Deprês”. E Arthur, em busca de respostas sobre seu irmão, transita entre esses estados, enquanto vai interagindo com outras pessoas e descobrindo mais do passado da cidade.

Tristeza

A jogabilidade de We Happy Few é semelhante a dos jogos de sobrevivência em primeira pessoa. Você coleta itens no caminho, tem uma árvore de habilidades e pode craftar armas, equipamentos e comida para aliviar suas necessidades. E aí começa um pouquinho do problema.

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Menu de habilidades de We Happy Few (Foto: Reprodução)

A ideia é bacana, porém há alguns elementos desnecessários. Você coleta muita coisa que não precisa e vários itens são “positivos e negativos” ao mesmo tempo (alimentos podres e bandagens sujas, por exemplo). Por outro lado, a variedade de itens é ótima, inclusive dá para mudar de roupa de acordo com os NPCs.

Só que você precisa comer, beber, dormir, dosar suas corridas… Fora os momentos em que acaba sendo necessário usar a Alegria para poder se misturar aos drogados, para evitar conflitos. E quando faz isso, é que o jogo brilha mais, porque se vê a diferença – em tudo – dos dois mundos.

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Com a Alegria, jogo fica mais interessante (Foto: Reprodução)

Outra parte fundamental de We Happy Few é o combate, e nisso ele vai mal demais. As lutas são, basicamente, corpo a corpo, e péssimas. As mecânicas são antiquadas, e os NPCs são meio burros. Você só vai perder uma luta se estiver cercado por muitos deles, o que vai acontecer se não for cauteloso em alguns momentos.

Sem contar que as armas também sofrem dano e que há uma barra de “vida” que faz o jogador só poder dar ou bloquear alguns golpes de vez em quando. Essa limitação não agrada, porque torna o combate não só ruim, como mais longo do que deveria. E isso, infelizmente, tira muito a graça do jogo.

Porque ele é longo, tem muitas missões de história e sidequests, e as interações com NPCs são fundamentais. Seja nos diálogos ou em combates mesmo. Se isso não for bem feito, perde-se muito. Até porque há ainda vários bugs que fazem a experiência tornar-se uma tristeza.

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Missões, loot e combate: o básico de We Happy Few (Foto: Reprodução)

Logo nas primeiras horas de jogo, já foi possível perceber alguns: NPCs que somem na sua frente, outros que aparecem do nada no combate, além de inimigos que na hora de lutar contra você, simplesmente grudam no seu corpo. É bem desanimador. Sem falar o tempo de loading, que é gigantesco normalmente.

AAA?

We Happy Few chegou com pinta de AAA, mas não causa um impacto nem próximo dos títulos desse calibre. Nada diz tanto isso quanto os gráficos.

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Gráficos não correspondem à expectativa (Foto: Reprodução)

Quando vimos os trailers de We Happy Few, ficamos empolgados com o trabalho visual. Muitas cores, ambientes interessantes e personagens diferentes. Tudo isso está lá, mas não com a qualidade gráfica esperada. Em muitos momentos, parece que estamos com um jogo da geração passada nas mãos – e isso fazendo a avaliação em um PS4 Pro.

Os cenários são bem básicos, especialmente no mundo normal, e as faces estão em um nível de qualidade bem abaixo do esperado. A localização do jogo também é, no mínimo, curiosa. Ele tem legendas em português, mas há algumas frases em inglês no meio das palavras em português, do nada.

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Jogo desperdiça boa temática (Foto: Reprodução)

Ou seja, em geral, We Happy Few decepciona. Não por ser um jogo péssimo, porque ele é até jogável, apesar de todas essas falhas técnicas, mas principalmente por ter um baita potencial desperdiçado. E tudo isso com um preço cheio de lançamento, de R$ 249,99 à vista na PlayStation Store nacional.7

Esperamos que com o modo sandbox e alguns patches de correção de erros, os bugs sejam corrigidos e a jogabilidade melhore, mas mesmo assim, é difícil recomendar We Happy Few. Infelizmente, a Compulsion Games produziu um jogo que chega ao mercado já descartável, ainda mais no momento, com tanta coisa boa vindo nos próximos meses.

Thiago Barros
Thiago Barros
Editor-Chefe
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Jogando agora: Avatar: Frontiers of Pandora
Jornalista, teve PS1, pulou o 2, voltou no 3 e agora tem o 4, o 5 e até o PSVR. Acha God of War III o melhor jogo da história do PlayStation.