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Fábricas de Sonhos: Konami, muito além de PES e Hideo Kojima

Com primeiro arcade lançado no fim dos anos 70, empresa japonesa tem história que não pode ser resumida ao sucesso dos seus jogos de futebol.

por Thiago Barros
Fábricas de Sonhos: Konami, muito além de PES e Hideo Kojima


Quando você ouve falar de Konami atualmente, logo liga seu nome à série Pro Evolution Soccer, popular PES, e à polêmica com Hideo Kojima. Mas a história da empresa é muito mais do que isso. Desde o fim dos anos 1970 no mercado dos games, ela marcou época em diversas gerações, com variados títulos.

E após um mês de férias, a série Fábricas de Sonhos volta ao Meu PS4para contar, justamente, essa história. De como o japonês Kagemasa Kozuki, dono de uma empresa que fazia aluguel de jukeboxes, transformou-a em uma fabricante de máquinas de arcades e, finalmente, começou a produzir games nos anos 80.

Conexão Japão-Estados Unidos

A Konami é uma das mais antigas empresas de jogos eletrônicos do mundo. Ela nasceu em 1969, ainda sem esse nome, e em 1973 iniciou o processo de fabricação de arcades com 1 milhão de ienes de capital. Cinco anos depois, lançaram seus primeiros “flipers” e fizeram muito sucesso: Block Game, Block Invader, Space Ship e Space King.

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Foi um dos primeiros hits da Konami (Foto: Reprodução)

Mas o mais legal de tudo é que a Konami rapidamente se conectou aos Estados Unidos, ampliando seus horizontes. Já em 1979, começou a exportar máquinas arcade para os americanos, o que ajudou seu capital a saltar para 40 milhões de ienes. E isso era só o começo de uma grande expansão.

O início da década de 80, então, confirmou o sucesso dessa empreitada de Kozuki-san. Novo escritório, ou melhor, um prédio em Osaka. Nova logo. Outra nova sede. Criação da Konami America. Expansão para PCs e consoles, não ficando restrita só a arcades. Tudo isso entre 1980 e 1983. Foi um boom.

Ao fim de 1983, a empresa já fazia games para PC e MSX, tinha sedes no Japão e nos Estados Unidos e contava com um capital de 300 milhões de ienes. Achou que ia parar por aí? Achou errado. No ano seguinte, ela expandiu pra Europa, abrindo escritórios no Reino Unido e na Alemanha.

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Nesse período, em termos de games, o grande sucesso foi Frogger, de 1981, em que o jogador controlava sapinhos saltitantes, que precisam ocupar espaços na tela para fechar um nível e seguir adiante. O shoot ‘em up Super Cobra, com tela horizontal, em que você controlava um helicóptero, também foi um sucesso.

E, desde então, a empresa já começava a flertar com games de esporte. Hyper Olympic, Hyper Sports, Konami’s Golf, Konami’s Tennis, Konami’s Baseball, Konami’s Ping Pong, Konami’s Soccer, F1 Spirit… Tudo isso saiu nos anos 80 para plataformas como o MSX e o Commodore.

Em 1986, veio sua primeira grande aventura – que se tornou série e hoje tem até uma série na Netflix. Castlevania, cujo título de estreia foi Akumajō Dracula, de 1986, para  Famicom e convertido para o MSX. Chegou ao Ocidente em 1987 e tornou-se grande símbolo de jogabilidade em jogos de plataforma e ação.

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Castlevania hoje tem até série na Netflix (Foto: Reprodução)

Misturando aventura, terror, vampiros e muita ação, a franquia tornou-se icônica. Desde então, teve diversos games para as mais variadas plataformas. Falta ainda, porém, um para a atual geração, já que o último game da franquia foi Castlevania: Lords of Shadow 2, de 2013, para PC, Xbox 360 e PlayStation 3.

Metal Gear: divisor de águas

O fim da década de 1980 ainda brindou os fãs com um dos maiores jogos da história; uma série de extremo sucesso por três décadas: Metal Gear. Inovador por se tratar de um gameplay stealth, ao invés de combate, e por ter enredos complexos, bem além das histórias tradicionais, ele virou referência no mercado.

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Metal Gear é um clássico! (Foto: Reprodução)

Tanto que o primeiro título foi lançado em 1987, para MSX 2 e Commodore 64, logo foi adaptado para o NES e, apenas três anos depois, ganhou a sequência, Metal Gear 2: Solid Snake, para o MSX 2. Só que, infelizmente, esse título saiu somente no Japão e de forma bem mais limitada.

Enquanto isso, no resto do mundo, a Konami continuava a fazer o sucesso com games variados. A série Teenage Mutant Hero Turtles, das populares Tartarugas Ninja, Mission: Impossible, da série de TV Missão Impossível, Batman Returns, do filme, o clássico Nigel Mansell’s World Championship Racing, de F1…

Novos títulos de Castlevania, parceria com a NBA, entrada no mundo do futebol (que iremos detalhar). Tudo isso no começo dos anos 90, enquanto a empresa ainda continuava sua expansão, abrindo novos escritórios em Tóquio e Hong Kong, abrindo venda de ações na bolsa e melhorando sua identidade visual.

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Metal Gear Solid consagrou a franquia definitivamente. (Foto: Reprodução)

Mas voltemos a Metal Gear, que teve seu verdadeiro boom mais de 10 anos após o título original ser lançado. Em 1998, Hideo Kojima revelou o Metal Gear Solid, para PlayStation. Uma obra-prima, em que Solid Snake se infiltra numa instalação de armas nucleares para neutralizar uma ameaça terrorista.

Com mais de 6 milhões de cópias vendidas e nota 94 no Metacritic, o jogou levou tudo aquilo que já havíamos visto nos primeiros dois jogos a um nível muito maior, até pelas possibilidades dadas pela geração de consoles da época. Visual mais bonito, gameplay super fluído e os enredos doidos do nosso Kojimão.

International Superstar Soccer Deluxe

Mas, aqui no Brasil, a Konami é conhecida mesmo pelos jogos de futebol. Tanto versões originais quanto piratas (infelizmente, mas é uma realidade).

Tudo começou em 1994, com International Superstar Soccer. Ali, nascia o mito de Allejo. Como não havia esse esquema de licenciamento de times e jogadores, o game focava apenas em seleções e tinha escalações genéricas. Allejo era o equivalente ao Bebeto, e tornou-se um símbolo da franquia para os brasileiros.

Nota: posteriormente, na versão de Nintendo 64, Allejo veio careca e mais magro, ficando mais associado ao Ronaldo Fenômeno.

No ano seguinte, saiu a versão Deluxe, que é a mais popular do game e fez um enorme sucesso no Super Nintendo. Só que rolou também a “adaptação” para trazer os clubes ao jogo. Era Ronaldinho Campeonato Brasileiro, sucesso nas locadoras do país nessa época, ali em meados dos anos 90.

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Allejo Eterno! (Foto: Reprodução)

Basicamente, era o mesmo jogo, só que com as seleções editadas para serem os times do Brasileirão. Além, claro, de ter todos os códigos loucos, tipo de colocar um cachorro em campo. Depois, vieram versões de Nintendo 64, coisas mais modernas, porém seu status só mudou mesmo quando seu nome mudou.

Isso aconteceu em 2001, quando a série virou Pro Evolution Soccer no Ocidente. Lá no Japão, ela já se chamava Winning Eleven desde 1997. Entraram os clubes, licenças e o PES que conhecemos hoje começou a se formar. Considerado, inclusive, melhor do que FIFA por muitos anos.

Sem falar na “variação extra-oficial”, o famoso Bomba Patch – 100% atualizado e ruim de aturar. Virou moda, todo mundo queria jogar. Eram updates piratas com atualizações incríveis pro jogo, com as últimas transferências, os melhores times. Tudo vendido e baixado ilegalmente, claro, mas é impossível não citá-lo.

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História do futebol virtual no Brasil se confunde com pirataria (Foto: Reprodução)

O sucesso no Brasil na última década foi tanto que a empresa começou a investir mais pesado no nosso mercado. Fechando patrocínios com clubes, acertando licenças com CBF e equipes, fazendo o e-Brasileirão, colocando brasileiros como estrelas da capa e embaixadores do título.

Deu P.T.

Mas os dois últimos títulos que marcaram positivamente a história da Konami são parte de uma grande polêmica. Primeiramente, P.T., o Playable Teaser criado por Hideo Kojima, mas divulgado como se fosse de outro estúdio. Ele motivou muitas pessoas a se unirem e quebrarem a cabeça para descobrirem o que era de fato.

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PT é um dos mais assustadores dos últimos anos.

Uma versão demo de Silent Hills, inspirado no sucesso de Silent Hill e que era a obra-prima de Hideo que todos aguardavam. Foi um hit absurdo em 2014. E em 2015 veio Metal Gear Solid V, outro título icônico e que teve ótima recepção da mídia e jogadores – além de mais uma campanha intensa de marketing.

Parecia que Kojima e Konami estavam nos melhores tempos de sua parceria. Mas não foi bem assim. O japonês pediu o boné (ou foi demitido, não se sabe), causando uma baita confusão. O ápice de foi quando ele não foi ao TGA 2015, sob alegações de que a empresa havia o proibido.

A Konami, então, removeu P.T. da PlayStation Store, passou as rédeas de Metal Gear para um time bem diferente (até lançou Metal Gear Survive posteriormente, debaixo de críticas dos especialistas e jogadores) e se separou de vez de Hideo, que por sua vez, voltou um ano depois com a Kojima Productions.

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MGS V foi o adeus de Kojima à Konami (Foto: Reprodução)

É um capítulo triste da história dos games, tanto pelos envolvidos, como pelo fato de, provavelmente, nunca mais vermos um novo Metal Gear, nem o tão esperado Silent Hills – mesmo que Death Stranding, primeira obra de Hideo fora da Konami após a polêmica, seja um baita sucesso.

Além dos games

Como toda grande publisher, a Konami ainda teve muitos hits entre os anos 90 e 2010. Dance Dance Revolution, NBA In The Zone, Yu Gi Oh, games de esportes com a ESPN, Zone of the Enders, Super Bomberman R. Mesmo com a grande publicidade negativa do litígio com Hideo Kojima, manteve-se relevante.

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Konami tem projeto de esportes bem legal no Japão (Foto: Reprodução)

Nos últimos anos, a empresa criou uma fábrica de máquinas de games em Las Vegas, mudou para um novo complexo no Japão, aumentou sua distribuição de jogos móveis, ganhou prêmios de inovação, realizou competições de e-Sports e, mais do que isso, atuou também fora dos games.

Você sabia, por exemplo, que a Konami tem uma divisão de esportes, criada em 2001, com um centro de treinamento e atletas que são patrocinados por ela? Inclusive, quatro (Natação e Ginástica) representaram o Japão nas Olimpíadas de Londres e seis vieram para o Rio nos Jogos de 2016.

Esses atletas acabaram conquistando 6 e 5 medalhas, respectivamente. Bacana, não é? É importante destacar também que a Konami possui ainda um lado forte de responsabilidade social, amplamente divulgado pelo seu site oficial. Ou seja, é uma empresa antenada com a sociedade.

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Empresa tem um prédio enorme em Tóquio (Foto: Wikimedia)

Kagemasa Kozuki e Takuya Kozuki comandam a companhia, que segue, desde sua fundação, com a família como acionista majoritária (29%). Ela tem mais de 4.600 funcionários, escritórios no Japão, Austrália, Estados Unidos, Europa e a Ásia (Hong Kong e Singapura).

Sem contar as ativações de séries criadas pela Konami que também começaram a fazer sucesso fora dos games, como Castlevania, com série na Netflix, o Silent Hill nos cinemas… Recentemente, foi confirmado que até mesmo o Dance Dance Revolution vai virar filme.

Ou seja, a Konami é uma gigante. Hoje, liderada por PES, mas com uma história bacana para contar do passado – e ainda algumas possibilidades interessantes a serem abordadas para o futuro. Como Super Bomberman R mostrou em 2017 no Nintendo Switch.

Principais jogos da Konami:

  • Space King (1978)
  • Astro Invader (1980)
  • Frogger (1981)
  • Super Cobra (1981)
  • Konami GT (1985)
  • Metal Gear (1987)
  • Castlevania (1987)
  • Contra (1987)
  • Skate or Die (1988)
  • Teenage Mutant Ninja Turtles (1989)
  • Mission: Impossible (1990)
  • The Simpsons (1991)
  • Tiny Toon Adventures (1991)
  • G.I. Joe (1992)
  • Nigel Mansell’s World Championship Racing (1993)
  • International Superstar Soccer (1994)
  • Yu-Gi-Oh! Trading Card Game (1996)
  • Metal Gear Solid (1997)
  • Dance Dance Revolution (1998)
  • Nagano Winter Olympics ’98 (1998)
  • Silent Hill (1999)
  • Pro Evolution Soccer (2001)
  • K-1 World Grand Prix (2003)
  • Metal Gear Solid V: The Phantom Pain (2015)
  • Super Bomberman R (2017)

* Não citamos capítulos de séries, como MGS 2, PES 2009, etc, para não deixar a lista gigante e injusta. Mencionamos apenas MGS V por termos citado ele no texto anteriormente – e por ser tão marcante na história.

** Confira a lista completa de jogos da Konami aqui.

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